Por Giuseppe Cocco.
“É hora do PT do Rio de Janeiro voltar a pensar estrategicamente”
O Rio de Janeiro é povoado por uma vasta multidão de pobres. Vocacionada a ser uma metrópole de esquerda, é um contraponto ao peso eleitoral que as forças conservadoras – turbinadas por uma grande mídia monopolista e totalitária – exercem no sudeste (em particular em São Paulo).
Desde a vitória de César Maia em 1992, a capital é governada pela direita. Nas coalizões de centro-esquerda, que passaram a governar o estado, o lugar e o papel do PT é marginal e subalterno.
Nos últimos anos, é verdade, os importantes investimentos do governo Lula em infra-estrutura, habitação, segurança e políticas sociais, foram o fiel de uma inflexão do governo estadual e a base potente de uma aliança nacional para a eleição da companheira Dilma: uma meta fundamental para toda a esquerda carioca e fluminense (bem como da esquerda nacional, sul-americana e mundial!).
Essa dinâmica virtuosa em nível estadual não pode, entretanto, esconder – em termos de reflexão de médio e longo prazo – que a esquerda do Rio de Janeiro (em geral) e o PT (em particular) têm que enfrentar o desafio da construção de um projeto hegemônico, de mobilização democrática e transformação social adequada às demandas populares por justiça social.
Dito de outro modo: para a esquerda em geral, apoiar as necessárias alianças e composições políticas nacionais e regionais não significa diluir-se nelas, mas enxergá-las como terreno de mediação para a construção de uma proposta majoritária de esquerda, expressão das lutas e das reivindicações das classes médias, dos trabalhadores e dos despossuídos.
Para o PT-RJ, tais alianças não devem esconder seus limites e perigos políticos, por exemplo, se identificando com um governo municipal claramente inspirado por valores conservadores e práticas de repressão dos pobres (como o ‘choque de ordem’ ou as políticas arbitrárias de ‘remoções’ das favelas). O paradoxo desta situação já se anuncia: os jogos olímpicos que o Brasil conquistou graça ao prestigio global do presidente dos pobres – Lula – correm o risco de serem usados contra os pobres do Rio de Janeiro, em função dos interesses da especulação imobiliária e da elite financeira.
Não devemos aceitar qualquer tipo de compromisso, nem se identificar com as forças com as quais fazemos alianças, tampouco aceitar permanecer em qualquer governo como pura moeda de troca. O PT-RJ não pode se submeter, nem ser linha auxiliar no xadrez da política nacional: o preço que pagará por esse pragmatismo será a tradução de sua atual marginalidade política em marginalização social. Os pobres da metrópole do Rio merecem um partido de esquerda que seja protagonista e expressão de suas lutas e represente seus objetivos.
O Partido dos Trabalhadores deve pensar e trabalhar nessa direção, afirmando um espaço de debate aberto, abrangente e democrático. No cerne dessa discussão, entre outras, está a questão política dos pobres (a partir de uma reflexão sobre as políticas federais de transferência de renda) e a questão da cidade: da mobilização produtiva e democrática do trabalho no estado do Rio de Janeiro (apreendendo com a experiência do grande ABC paulista, que teve Celso Daniel como um dos arquitetos do modo petista de governar).
É um trabalho de médio prazo, mas há algo que é possível fazer nas eleições de 2010. Apoiar candidaturas comprometidas com essa política, em particular no pleito majoritário: a candidatura do prefeito de Nova Iguaçu ao Senado, que governou uma grande cidade da baixada fluminense, indica esse caminho. Ela precisa ser reforçada agora pela presença de uma figura política e intelectual que tenha legitimidade e capacidade de liderar esse esforço de construção de um projeto para a esquerda e o PT.
Giuseppe Cocco é professor da UFRJ e da Universidade Nômade
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