Por Vito Gianotti
Quando começou a ser comemorado o Dia Internacional da Mulher? Quando começou a luta das mulheres por sua libertação? Qual a influência do movimento socialista na luta das mulheres? E o 8 de março como nasceu? A data teve origem do quê? Onde?
Estas e outras questões merecem uma atenção especial neste 2003, quando nos jornais e na internet apareceram repetidamente versões diferentes, da tradicional, sobre a origem do Dia da Mulher e seu significado. Todas estas versões, no entanto, esqueceram a palavra chave, que está na história da luta da mulher por sua libertação: mulher “socialista”.
Este ano, nas vésperas do 8 de março o jornal cearense O Povo publicou um longo artigo de uma professora da Universidade Federal do Ceará que deixou muita gente assustada. O mesmo aconteceu em vários artigos que circularam na internet. Para encarecer a dose, logo após a comemoração do Dia da Mulher, o novo jornal de esquerda que acabava de sair, Brasil de Fato, no seu número 1, também traz um artigo da mesma professora da UFC, Dolores Farias, que reafirma o que ela havia escrito no jornal O Povo, dias antes. Vi gente ficar furiosa com a contestação da origem da data do Dia Internacional da Mulher. Procurando entender o porquê desta confusão.
Na verdade, a questão da origem do 8 de março já existe há anos. Em 1996, o Jornal do Brasil trazia um artigo da professora da UERJ, Naumi Vasconcelos, no qual ela dizia que tal greve de Nova Iorque, em 1857, na qual teriam morrido 129 operárias queimadas vivas, nunca existiu. E ela afirma que a origem desta data é bem outra.
No mesmo ano, em março, Conselho de Classe, jornal do SEPE, sindicato dos professores da rede pública do estado do Rio de Janeiro, trazia um artigo da mesma professora Naumi, com o título sugestivo de: “Quem tem medo do 8 de março?” Neste, a autora citava, como fonte fundamental para a discussão, um livro de uma pesquisadora canadense intitulado: “O dia Internacional da Mulher – Os verdadeiros fatos e datas das misteriosas origens do 8 de março, até hoje confusas, maquiadas e esquecidas”.
Este livro, da autora canadense Renée Côté, saiu em 1984 e estranhamente ficou esquecido por várias razões. O livro da Renée é totalmente antiacadêmico, anticonvencional. Mas, mais do que a forma, o que fez o livro cair no esquecimento foi o que ela diz, que incomoda muita gente. Ela prova por a + b, ao longo de 240 páginas, que as certezas que nos anos 1960, 70 e 80, foram criadas pelos movimentos feministas, a respeito do surgimento do 8 de março, são pura ficção. Ela derruba um mito caro às mulheres feministas, que tanto penaram para afirmar esta data. Além disso, o livro foi deixado cair no esquecimento porque é mais fácil aceitar versões já consolidadas de histórias caras às nossas vidas, do que se questionar sobre mitos estabelecidos. Um pouco como, para muitos, é mais fácil aceitar a historinha de Adão e Eva, criados do barro, uns seis mil anos atrás, do que se questionar sobre as origens do homem, bem mais complexas, centenas de milhares de anos atrás.
Há um outro fator, que acho determinante, que fez o livro da autora canadense cair no limbo. Ela deixa transparecer, o tempo todo, sua visão favorável à autonomia dos movimentos sociais frente aos partidos e mostra uma prevenção à própria idéia de partido político. O livro se insere no grande leito da luta autonomista, típica dos movimentos de esquerda dos anos 70. Isto a antipatiza com muitos setores da esquerda mais influente, que poderiam ter divulgado sua obra. Mas deixando de lado simpatias, ou alergias, vamos entra no cipoal deste mito.
A explicação da origem do mito da greve de Nova Iorque de 1857, nos EUA, e do esquecimento de outra greve real, concreta e proibida, de 1917 na Rússia, vamos ver só no final do artigo. A questão chave é ver porque, no mundo bipolar da Guerra Fria dos anos 60 do século passado, os dois blocos em disputa aceitaram a versão de uma greve de mulheres, em 1857, nos EUA, e esqueceram uma outra greve de mulheres, em 1917, na Rússia? Os motivos são mais políticos que psicológicos. Vejamos.
O clima mundial quando nasceu o mito de 1857
A idéia da libertação da mulher nasceu na terra fértil do movimento socialista mundial, no final do século XIX e começo do século XX.
As raízes desta batalha podem ser encontradas nos escritos de Marx e Engels. A visão da família, da mulher proletária e da burguesa que permeiam A Origem da Família, da propriedade e do Estado, de Engels, é a base da visão dos socialistas da necessidade da libertação da mulher proletária. A frase do Marx “A opressão do homem pelo homem iniciou-se com a opressão da mulher pelo homem”, demorou para dar seus frutos, mas deu.
Contemporâneos de Marx, Paul Lafargue e Laura Marx foram batalhadores da igualdade e da libertação feminina, em seus vários escritos e sobretudo em seu livro mais conhecido Direito à preguiça.
Clara Zetkin, desde 1890, logo após a fundação da Internacional Socialista, começou a falar, escrever e organizar a luta das mulheres visando integra-las à luta socialista. Visando a que elas tomassem seu lugar na luta de classes, na revolução.
Fora da 2ª Internacional, a tradição anarquista de uma parte do movimento operário exigia a igualdade de homens e mulheres. A realidade, naquele começo do movimento da classe trabalhadora ainda era dura: partido e sindicato eram coisas de homem. Mas, mesmo nesse ambiente desfavorável, grandes mulheres passaram a discutir com as maiores lideranças da época e deixaram suas marcas em livros e artigos e na organização das forças revolucionárias. Foi neste embate de idéias que um dos teóricos da Internacional, August Bebel, escreveu seu livro A mulher e o socialismo. E é nesse grande rio que deságua o célebre A nova mulher e a moral sexual, de Alexandra Kollontay.
Neste ambiente de lutas operárias e de discussões teóricas, no campo socialista, que nasceu a luta pela participação política e, pouco a pouco, pela libertação da mulher.
A partir do começo do século XX, esta batalha das socialistas se cruzou com a de um punhado de mulheres independentes, em sua maioria pertencentes à classe média e alta, que estavam em campanha pelo direito de voto. Estas mulheres, sobretudo nos Estados Unidos, ao reivindicar o sufrágio para as mulheres, foram conhecidas como as sufragistas e suas relações com as socialistas eram de conflito.
As mulheres socialistas se organizam e criam o Dia da Mulher
Desde 1901, logo após a criação do Partido Socialista, nos EUA, surge a União Socialista das Mulheres, com a finalidade de reivindicar o direito de voto feminino. Entre os anos 1904 e 1908, sempre nos Estados Unidos, nascem vários clubes de mulheres, uns intimamente ligados ao Partido Socialista, outros mais autônomos, anarquistas ou não.
Em 1908, a Federação dos Clubes de Mulheres Socialistas de Chicago toma a iniciativa, autônoma, não ligada oficialmente ao Partido Socialista, de chamar para um Dia da Mulher, num teatro da cidade. Era o domingo 3 de maio. Os debates do dia tinham dois temas de pauta: 1- A educação da classe trabalhadora, e 2- A mulher e o Partido Socialista.
Nesta conferência o palestrante, Ben Hanford repetiu uma das idéias chaves de Engels no seu Origem da família da propriedade e do Estado: “As mais exploradas são as mães do nosso povo. Elas estão de mãos e pés amarrados pela dependência econômica. São forçadas a vender-se no mercado do casamento, como suas irmãs prostitutas no mercado público.”
Mas não foi este encontro independente, no teatro The Garrick, de Chicago, que foi reconhecido pelo Partido Socialista como o começo da comemoração do Dia da Mulher. A iniciativa deste dia tinha nascido fora da estrutura oficial do Partido.
O primeiro Dia da Mulher, nacional, assumido pelo Partido, foi no ano seguinte, em Nova Iorque, em 28 de fevereiro de 1909. Em outras cidades do País, como Chicago, o dia foi celebrado em outras datas.
O objetivo deste dia, convocado pelo Comitê Nacional da Mulher do Partido Socialista americano, era “obter o direito de voto e abolir a escravidão sexual”. O panfleto de convocação dizia: “A realização da revolução das mulheres é um dos meios mais eficazes para a revolução de toda a sociedade.”
Desde o começo do século, nos EUA havia um importante movimento pelo voto feminino, fora da órbita dos socialistas. A maioria das mulheres do Parido consideravam o movimento pelo voto com desprezo, unicamente como um movimento de “mulheres brancas e de classe média”. Porém, dentro do Partido Socialista há um constante vai-e-vem sobre este tema. Por seu lado, as mulheres anarquistas não viam nenhum sentido na luta pelo voto, nem das mulheres e nem dos homens. O meio para construir uma nova sociedade não seria certamente o voto, e sim a ação direta revolucionária.
Mas o ambiente americano favorecia esta reivindicação. Até o ano de 1909, em quatro estados era reconhecido o direito ao voto feminino. A extensão do voto para toda mulher americana só virá em 1920.
Na Europa o movimento das mulheres socialistas, liderado por Clara Zetkin, também era cheio de zigezagues. No começo, dentro da Internacional se levava uma guerra sistemática contra o voto feminino, visto como uma forma de desviar as forças revolucionárias das mulheres e considerado como uma reivindicação burguesa. Era assim que eram tachadas as sufragistas pelas socialistas. Esta visão européia será adotada pelo Partido Socialista americano, em meio a grandes debates e com vozes discordantes.
Mas, no meio de todas as contradições deste debate, em 1907, em Stuttgart, na 1ª Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, 58 delegadas de 14 paises elaboraram uma proposição que comprometia os vários Partidos Socialistas a entrar na luta pelo voto feminino. A proposição foi elaborada, na véspera, na casa da Clara Zetkin, por ela e duas camaradas que se hospedaram em sua cas, Rosa Luxemburg e Alexandra Kollontay, única russa da Conferência.
É nesse clima de embates que, em 1910 o Partido Socialista americano organiza, pela segunda vez, o Dia da Mulher para o último domingo de fevereiro, em Nova Iorque. O objetivo é declarado sem rodeios no convite: “arrolar as mulheres no exército dos camaradas da revolução social”.
Esta comemoração de 1910 foi marcada por uma grande participação de operárias. As costureiras da cidade haviam terminado uma longa greve pelo direito de ter seu sindicato reconhecido. A greve durou de 22 de novembro de 1909, até 15 de fevereiro, quase véspera do Dia da Mulher. Foi uma greve longa, dura, com fortes piquetes, reprimidos com violência pela polícia, que prendeu mais de 600 pessoas. Encerrada a greve há poucos dias, as costureiras participaram ativamente do Dia da Mulher chamado pelo Partido Socialista.
Dois meses depois, em maio, no congresso do Partido, realizado em Chicago, foi deliberado que o Partido americano enviaria delegados ao Congresso da Internacional, dali a três meses,com a tarefa, entre outras, de propor ao plenário, que o Dia da Mulher fosse assumido pela Internacional e que se tornasse o Dia Internacional da Mulher, a ser celebrado pelos socialistas, no último domingo de fevereiro de cada ano.
Em agosto do mesmo ano de 1910, antes do congresso do Partido, se realizou, em Copenhagem, Dinamarca, a 2ª Conferência Internacional das Mulheres Socialistas. Foi ali que as delegadas americanas levaram a proposta aprovada em seu País. Assim, sob proposta das delegadas americanas, Clara Zetkin e outras camaradas propõe a realização anual do Dia Internacional da Mulher. A data ficou indefinida, a cargo de cada país comemorar o seu dia na melhor data. A resolução aprovada será publicada, logo em seguida, no jornal dirigido pela Clara, A Igualdade, em 29 de agosto. “As mulheres socialistas de todas as nações organizarão um Dia das Mulheres específico, cujo primeiro objetivo será promover o direito de voto das mulheres. É preciso discutir esta proposta, ligando-a à questão mais ampla das mulheres, numa perspectiva socialista.”
A partir desta conferência, as mulheres socialistas passarão a comemorar o Dia Internacional das Mulheres, sempre aos domingo. Nos primeiros três anos após esta resolução, este dia, na maioria dos paises, é marcado para o último domingo de fevereiro.
Dia da Mulher se fixa em 8 de Março
Na Europa, a primeira celebração do Dia Socialista das Mulheres aconteceu em 19 de março de 1911, por decisão do Secretariado da Mulher Socialista, órgão da Internacional. Alexandra Kollontay, que propôs a data, diz que foi para lembrar um levante de mulheres proletárias, na Prússia, em 19 de março de 1848. Neste dia as mulheres conseguiram do rei da Prússia a promessa, depois não cumprida, de obter o direito de voto.
Nos EUA, a tradição de realizar o Dia da Mulher no último domingo de fevereiro se repetiu em 1911, 1912 e 1913. Em 1914 será comemorado em 19 de março.
Nos vários paises da Europa, após a decisão da 2ª Conferência, onde havia um partido socialista, se começou a comemorar o dia da Mulher.
Na Suécia a primeira comemoração foi em 1º de março de 1911. O mesmo aconteceu na Itália. Na França o começo do Dia da Mulher foi em 1914, comemorado dia 9 de março, próximo ao Dia da Mulher na Alemanha.
Em 1914, pela primeira vez, na Alemanha, as mulheres socialistas marcam a data do Dia da Mulher para 8 de março. Não se explicou o porque desta data, pois não precisava. Era um detalhe sem interesse. A data era totalmente indiferente. Importante era a realização do dia.
Na Rússia, debaixo da opressão do Czar, o primeiro Dia da Mulher só foi comemorado em 3 de março de 1913. Em 1914 todas as organizadoras do Dia da Mulher serão presas e com isso não houve comemoração.
Em plena Guerra Mundial, em 1917, na Rússia, as mulheres socialistas realizaram seu Dia da Mulher no dia 23 de fevereiro, pelo calendário russo. No calendário ocidental, a data correspondia ao dia 8 de março.
Neste dia, em Petrogrado, um grande número de mulheres operárias, na maioria tecelãs e costureiras, contrariando a posição do Partido, que achava que aquele não era o momento oportuno para qualquer greve, saíram às ruas em manifestação por pão e paz. Declararam-se em greve. Esta manifestação foi o estopim do começo da primeira fase da Revolução Russa, conhecida depois como a Revolução de Fevereiro.
Esta greve foi documentada nos escritos de Trotsky e de Alexandra Kollontay, ambos membros do Comitê Central do Partido Operário Social-democrata Russo e ambos, depois, proscritos pelo stalinismo vencedor. Kollontay escreve: “O dia das operárias, 8 de março, foi uma data memorável na história. Neste dia as mulheres russa levantaram a tocha da revolução.”
Mas o texto que melhor nos conta os fatos da greve das operárias de Petrogrado é um longo trecho de l. Trotsky, no primeiro volume do seu livro História da Revolução Russa. Vale a pena acompanha-lo:
“O 23 de fevereiro era o Dia Internacional das Mulheres. Se programava, nos círculos da social-democracia, de mostrar o seu significado com os meios tradicionais: reuniões, discursos, boletins. Na véspera, ninguém teria imaginado que este Dia das Mulheres pudesse ter inaugurado a revolução. Nenhuma organização planejava alguma greve para aquele dia. Ainda por cima, uma das mais combativas organizações bolcheviques, o Comitê do tecelões de rayon, de Vyborg, formado essencialmente por operários, desaconselhava qualquer greve. O estado de espírito das massa, segundo Kaiurov, um dos chefes operários deste setor, era muito tenso e cada greve ameaçava tornar-se um confronto aberto. O Comitê julgava que o momento de começar as hostilidades ainda não tinha chegado e que o Partido ainda não tinha forças suficientes e, ao mesmo tempo, a união entre soldados e operários ainda era insuficiente. Por isso tinha decidido de não chamar para a greve, mas para se preparar para a ação revolucionária, num futuro ainda não definido. Esta era a linha de conduta preconizada pelo Comitê, na véspera do dia 23, e parecia que todos a tivessem aceita. Mas, na manhã seguinte, contra todas as orientações, as operárias têxteis abandonaram o trabalho em várias fábricas e enviaram delegadas aos metalúrgicos para pedir-lhes que apoiassem a greve. Foi a contragosto, escreve Kaiurov, que os bolcheviques, seguidos pelos operários mencheviques e pelos socialistas de esquerda se juntaram à marcha. Como se tratava de uma greve de massa, era necessário comprometer todo mundo para sair às ruas e estar à frente do movimento. Esta foi a resolução proposta por Kaiurov e o Comitê de Vyborov se sentiu forçado a aprova-la.
Pelos fatos, é então certo que a Revolução de Fevereiro foi iniciada por elementos da base que passaram por cima da oposição das suas organizações revolucionárias e que a iniciativa foi tomada espontaneamente por um contingente do proletariado explorado e oprimido mais que todos os outros, as operárias têxteis. (…) O empurrão final veio das enormes filas de espera na frente às padarias.”
Em 1921, realiza-se, em Moscou, na URSS, a Conferência das Mulheres Comunistas que adota o dia 8 de marco como Data unificada do Dia Internacional das Operárias. A partir dessa conferência, a 3ª Internacional, recém criada, espalhará a data do 8 de março como data da comemorações da luta das mulheres.
Um dia esquecido e depois reinventado
Na Rússia comunista, após a vitória da Revolução de Outubro, nos primeiros anos do novo regime, no dia 8 de março se realizava o Dia Internacional da Mulher Comunista. O dia, pouco a pouco, perdeu seu interesse e o adjetivo comunista foi caindo à medida que o ímpeto revolucionário da União Soviética começou a se arrefecer.
Nos anos 30 o Dia Internacional da Mulher, seja comunista que socialista, se perderá na tormenta que se abateu sobre o mundo. A ascensão do nazismo na Alemanha, o triunfo do stalinismo na URSS e o declínio da Social-democracia na Europa e o vendaval da IIª Guerra Mundial enterrarão as manifestações do Dia da Mulher.
A humanidade só voltará a falar do Dia da Mulher, no final dos anos 60.
Neste lapso de tempo, o marco do 8 de março, data da greve das operárias de Petrogrado, de 1917, foi esquecido. A data da vitória das revolucionárias rebeldes russas, que impôs a derrota do absolutismo do Czar e deslanchou a Revolução Russa, não interessava aos comunistas do mundo todo. Estes, quase todos, viviam anestesiados pelos encantos ou pelo terror stalinista. Retomar a lembrança daquele 8 de Março das operárias revolucionarias de Petrogrado, também não interessava à Social-democracia, rejuvenescida após a destruição da guerra e em conflito aberto com o comunismo dos países do bloco soviético.
Menos que menos, a data do 8 de março de 1917, na nascente URSS, interessava ao bloco capitalista ocidental, inimigo mortal da Rússia comunista.
Foi assim, sem precisar de uma conspiração organizada por um suposto império do mal, que na Alemanha comunista, em 1966, a Federação das Mulheres Comunistas retomou o Dia da Mulher. Vimos que o fizeram de forma confusa, misturando fatos com fantasias, inventando datas e detalhes.
E foi assim, sem nenhuma deliberação conspiratória, que o mito que acabava de ser criado, em 1966, no Leste Europeu, começou a ser divulgado e foi depois enriquecido fartamente, nos EUA do final dos anos 60.
Depois disso era só enriquecer o mito. O que foi feito, até sua cristalização em 75, com a ONU e logo depois com a Unesco.
8 de Março: uma data a enriquecer
Derrubar o mito da origem da data do 8 de março não implica em desvalorizar o significado histórico que este adquiriu. Muito ao contrário. Significa enriquecer a comemoração deste dia com a retomada de seu sentido original. Significa voltar às origens, para que a cepa-mãe do ideal socialista possa alimentar, sem medos, e sem vergonha pelas derrotas sofridas pelas revoluções perdidas no século XX, a arvore, ainda frágil, da luta pelos direitos e pela libertação total das mulheres. Significa integrar todos os novos e importantíssimos aspectos da luta da libertação da mulher, descobertos com a evolução histórica da humanidade no século XX, com a retomada de suas raízes socialistas. Integrar à clássica luta socialista/comunista do começo do século, as cointribuições de Wilhem Reich, Simone de Beauvoir, Herbert Marcuse, Samora Machel, Betty Friedann, Rose Marie Muraro e milhares de ativistas ,militantes e organizadoras da luta das mulheres, no mundo inteiro. Sem medo da felicidade, sem medo do prazer. Sem medo de lutar por uma revolução, que deverá ser social, sexual, e profundamente cultural. Sem medo de levantar as bandeiras vermelhas da luta pela libertação da humanidade, homens e mulheres.
Fonte: Página 13