sábado, 20 de março de 2010

A baixaria está na ordem do dia



Por Valter Pomar

O crescimento de Dilma Roussef nas pesquisas está provocando extremo nervosismo na direita brasileira.

A conta que eles fazem é mais ou menos a seguinte: diziam que o PT nunca elegeria o presidente da República, mas elegemos; diziam que Lula nunca seria reeleito e que o PT estava acabado, mas ocorreu o contrário; diziam até há pouco que Lula nunca faria o sucessor, mas vários porta-vozes da direita já reconhecem que o mais provável é uma vitória de Dilma em outubro de 2010.

Daí o nervosismo: para uma direita que pretendia ficar “20 anos no poder” –nas palavras do falecido Sérgio Motta, a checar se antes ou depois da compra de votos para aprovar a reeleição no Congresso Nacional–, é insuportável pensar que o PT está construindo as condições para ficar talvez 20 anos no governo.

Direita nervosa é direita perigosa. Em recente evento em defesa da “liberdade de empresa”, ficou clara a linha: a vitória de Dilma é uma ameaça às “liberdades”. E todos sabemos quantos golpes, mortes, torturas e desaparecimentos a direita brasileira já foi capaz de perpetrar, em defesa de seus interesses.

Claro que 2010 não é 1964. A crispação existente no debate ideológico é imensa; mas o nível de confronto social direto é muito baixo, entre outros motivos devido aos investimentos públicos e ao crescimento (real ou potencial) decorrente. Em casa em que há pão…

Devido ao mesmo motivo, o estado de ânimo dos grandes capitalistas é bem diferente do exibido por seus representantes políticos. Embora não gostem da presença da esquerda no governo federal, os empresários sabem que lucraram muito nos últimos anos.

Esse divórcio entre parte da burguesia e a cúpula de seu “partido”, entre os donos do capital e o discurso dos grandes meios de comunicação e dos demo-tucanos, é uma das maiores dificuldades enfrentadas pela direita em 2010.

A divisão no andar de cima quase nos levou à vitória em 1989. A unidade na “cobertura” derrotou a esquerda em 1994 e 1998. E sua divisão em 2002 foi uma das razões da eleição de Lula.

A histeria ideológica contra o PT, acentuada nas últimas semanas, deve ser vista, neste sentido, como uma jornada de formação política: os representantes políticos da burguesia querem convencer suas bases de que todos correm sério risco, caso Dilma vença as eleições.

O roteiro básico desta “jornada de formação política”, promovida pela direita, é o seguinte: 1) reconhecer os aspectos positivos do governo Lula; 2) dizer que estes aspectos positivos decorrem da continuidade das políticas do governo FHC; 3) apontar que Lula teria recebido uma grande ajuda da conjuntura internacional; 4) afirmar que os aspectos negativos do governo Lula decorrem principalmente da influência do PT e da esquerda; 5) dizer que Lula teria conseguido, devido ao seu temperamento pessoal e força política, manter o PT e as idéias de esquerda sob certo controle; 6) mas que Dilma, por seu temperamento e por não ter força política suficiente, não conseguirá controlar os radicais; 7) motivo pelo qual o governo Dilma, ao contrário do governo Lula, causará graves danos para as liberdades do Capital.

Trata-se, como é evidente, de uma visão distorcida dos fatos. Em primeiro lugar, os aspectos negativos dos últimos anos decorrem, exatamente, da herança maldita do governo FHC. Esta herança teve enorme influência, durante o período em que Palloci foi ministro da Fazenda. Esta influência teve conseqüências políticas deletérias, com destaque para as derrotas eleitorais de 2004 e para a crise de 2005. As bases do Partido reagiram a isto votando nos setores que faziam oposição ao conservadorismo da política monetária; esta oposição foi majoritária no primeiro turno do PED de 2005 e só não ganhou a presidência do Partido devido ao esquerdismo sectário do grupo liderado por Plínio de Arruda Sampaio. A partir do PED de 2005, começou um deslocamento do Partido e também do governo para a esquerda. É isso que garante a atual sintonia entre o Partido e o governo.

O governo Dilma estará “à esquerda” do governo Lula, assim como o segundo governo de Lula esteve “à esquerda” do primeiro. Mas esta radicalização se deve mais aos radicais da direita, do que aos radicais do PT. A tentativa de derrubar o governo Lula, em 2005, demonstrou os limites da política de conciliação promovida principalmente por Palloci. E obrigou o Partido e o governo a mover-se noutra direção.

O saldo, como sabemos, foi uma mudança no eleitorado que garantiu o segundo turno de 2006. O divórcio entre os “formadores de opinião” e a grande maioria do povo é outra das dificuldades enfrentadas pela direita em 2010. Mesmo que consigam unificar-se em torno da campanha de demonização do PT e de Dilma, nada garante que a direita tenha sucesso em ganhar o voto do povo em favor da candidatura Serra.

Eis porque, ao lado da já citada “jornada de formação política”, a direita trabalha pela divisão do campo governista; estimula candidaturas “dissidentes”, como as de Ciro Gomes e Marina Silva; destaca temas incômodos para setores conservadores do eleitorado; além de contar com o apoio indireto da ultra-esquerda.

Tudo isto aconteceu em 2006, sem sucesso. Mesmo assim, o PT e a pré-campanha devem estar vigilantes contra o salto alto: a direita é muito poderosa e até outubro muita água ainda há de passar por debaixo da ponte. Sem falar na assessoria que a direita tupiniquim já está recebendo de seus amigos estadounidenses e europeus.

O fundamental é perceber que a direita busca colocar uma cunha entre petismo e lulismo, entre o eleitorado tradicional da esquerda e o eleitorado que se aproximou de nós, especialmente ao final do primeiro governo Lula.

É por isso que seus intelectuais & penas de aluguel têm buscado identificar e salientar diferenças entre o governo, Lula, Dilma e o PT; bem como especular acerca das “rupturas” que poderiam ocorrer entre o governo Lula e o futuro governo Dilma.

Nossa resposta é que, para nós, continuidade é mudança, é continuidade da mudança. Como disse Dilma, em seu discurso ao IV Congresso do PT, “avançar muito mais e muito mais rapidamente”.

Ou seja: neutralizar e derrotar a crítica do adversário, mas sem capitular à idéia da estabilidade pela estabilidade, da continuidade como continuísmo.

Nem sempre sabemos fazer isto. Entre nós há pessoas que não perceberam que os tempos mudaram e que não estamos na conjuntura de 2002, quando prevaleceu a “necessidade” de oferecer “garantias ao mercado”. Do que precisamos, agora, é oferecer garantias ao povo, de que a vida vai continuar a melhorar.

Isto posto, é importante pensar a respeito do que fará a direita se Dilma continuar subindo nas intenções de voto e caminhando rumo à vitória em outubro de 2010? Além de babar e rosnar, vão morder? E que tipo de oposição farão contra nosso governo, a partir de 1 de janeiro de 2011?

Valter Pomar é membro do Diretório Nacional do PT

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