terça-feira, 31 de agosto de 2010

CUT 27 anos de vida. Um legado de lutas e conquistas!



Por Expedito Solaney

Inicio este texto de homenagem e parabéns à Central Única dos Trabalhadores pela passagem de seus 27 anos de lutas e conquistas, citando parte do discurso do companheiro Presidente da Republica Luiz Inácio Lula da Silva no comício do Recife na ultima sexta-feira dia 27 de agosto de 2010 por ocasião da campanha eleitoral 2010.

Dizia o companheiro que: “…quem ajudou a fundar uma central sindical com a importância e a história da CUT para os/as trabalhadores/as do Brasil; quem ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores, não podia jamais errar no comando de um país que tinha e tem todas as condições de garantir cidadania, emprego, saúde e educação aos seus filhos. Que ao concluir seu segundo mandato como Presidente do Brasil no final desse ano, tem a consciência tranqüila do dever cumprido…”

Vamos à luta companheiro! A CUT é protagonista desse êxito porque sua direção soube pautar o governo Lula de forma consequente, com objetivo, com estratégia. Nunca abriu mão de sua independência, fez marchas a Brasília, jornadas de lutas, greves. Criticamos radicalmente a política de juros altos e o lucro dos banqueiros. O Brasil melhorou, mas os indicadores sociais ainda apontam muita desigualdade. Oito anos é pouco, por isso apoiamos a Dilma para o Brasil seguir mudando.

Há 27 anos, entre os dias 26 a 28 de agosto de 1983, acontecia em São Bernardo do Campo o 1º Congresso Nacional da Classe Trabalhadora (convocado pelo setor combativo da comissão pró-CUT criada em 1981 na 1ª conferencia nacional da classe trabalhadora). No último dia do congresso, dia 28 de agosto de 1983, nascia a Central Única dos Trabalhadores pelo vigor e necessidade da classe trabalhadora. Com um programa que tem como princípio a independência de classe, a democracia operária e a luta pelo socialismo. Um congresso de fundação que aprovou uma pauta de luta que ia além das questões sindicais, como: o combate às políticas econômica e salarial do governo, a luta contra o desemprego, a defesa da liberdade e autonomia sindical, o fim das intervenções nos sindicatos e, a luta pela reforma agrária. Os mais de cinco mil trabalhadores/as presentes, vindos do campo e da cidade dos quatro cantos desse país, exigiam o fim da Lei de Segurança Nacional e de Eleições Diretas para Presidente da República. Nesta data companheiros e companheiras, era plena ditadura militar.

A construção desta ferramenta foi coletiva, com alicerces muito firmes e consistentes ideologicamente. No dia 28 de agosto de 2010, 27 anos depois, a CUT é a 5ª maior central sindical do mundo, pautada na luta e combatividade, na autonomia e independência perante governos e patrões, com uma sólida democracia interna, onde tem lugar a pluralidade de pensamento das forças políticas que a compõe. Não conseguimos ser única como queríamos, tão pouco estamos satisfeitos com a banalização de criação de centrais sindicais, sem conjuntura nem necessidade da classe trabalhadora para tal. A última, o congresso de fundação sequer terminou porque os presentes discordaram do nome, outras por vontade e desejo individuais, outras por aparelhismo com vista ao dinheiro do imposto sindical, agora com o reconhecimento das centrais sindicais como parte da estrutura sindical oficial brasileira. Seguimos firmes chamando a unidade da classe trabalhadora em uma única organização, assim somos mais fortes para dar o enfrentamento necessário aos patrões e aos governos.

Esses 27 anos da CUT são comemorados com uma direção coesa em um ambiente de unidade interna e ação concreta. Cito algumas: Primeiro, a Comunicação da CUT está de parabéns, a competência, dedicação e engajamento da equipe da SECOM, com o novo projeto de comunicação, novas ferramentas como a TV e Rádio web, o novo portal Mundo do Trabalho está muito mais interativo e atrativo. A regularidade e periodicidade do jornal imprimiram um ritmo de comunicação entre a CUT nacional e os sindicatos de base através desse meio. Hoje, o jornal da CUT é ferramenta de formação e comunicação que faz parte de nossa ação cotidiana. O processo de implantação da acessibilidade na comunicação, a revista etc. Segundo, a divulgação e lançamento da campanha ‘CUT nas Ruas’ com a Plataforma da Classe Trabalhadora. Está ação política tem repercutido, sido de fundamental para a divulgação da Plataforma que foi debatida e construída através de seminários regionais culminando com um documento que expressa o acúmulo desde as resoluções do 10º CONCUT sintetizados em três eixos que traduzem a necessidade da classe trabalhadora para o próximo período. Isso está dando uma dinâmica na ação política da central frente às eleições 2010. A Plataforma foi lançada em ato nacional no 1º de maio em São Paulo, entregue neste mesmo ato a candidata Dilma Russef. Também vem sendo lançada em entregue aos candidatos a governos estaduais nas cinco regiões do país. Terceiro, a campanha nacional em defesa dos direitos dos/as trabalhadores/as com deficiência em curso já lançada em vários estados. Quarto, a ação da política Internacional tem conferido a CUT um destaque em importantes eventos, congressos e conferências, além das lutas e solidariedade a classe trabalhadora internacional. Além das ações cotidianas, projetos e campanhas das demais secretarias.
Por fim, a reforma estatutária ocorrida no 10º Congresso dinamizou a direção executiva com novas secretarias, fusões e extinção de outras.
Estamos no caminho certo, a CUT é a locomotiva do movimento sindical brasileiro nasceu por necessidade da classe trabalhadora, pautou e pauta sua história na luta cotidiana da classe trabalhadora.

VIVA A CUT E SEUS 27 ANOS. VIVA A CLASSE TRABALHADORA!

Expedito Solaney é secretário nacional de Políticas Sociais da CUT – Secretário nacional de Políticas Sociais da CUT

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Taffarel Bom DILMA Rio

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A luta da Globo contra a democratização dos meios de comunicação



Da redação do Página 13

Recomendamos a leitura do editorial de O Globo (ver abaixo), reagindo ao relatório de um dos grupos de discussão realizados durante o XVI Encontro do Foro de São Paulo.

O nome oficial do tal grupo de discussão foi Encuentro sobre democratización de la comunicación, que se dedicou basicamente a debater a experiência de Lei de servicios de comunicación audiovisual, recentemente aprovada pelo Congresso da Argentina, país anfitrião do XVI Encontro. Reproduzimos ao final a íntegra deste relatório.

Até sexta-feira, a Memória completa do XVI Encontro estará disponível na rede mundial de computadores.

Como se pode verificar da leitura do relatório, o problema não está nos porões petistas, mas sim na mentalidade cavernícula de grande parte dos donos e das penas de aluguel dos grandes meios de comunicação.




O Globo | Opinião | BR

Sinais contraditórios de PT e Dilma

A luta em defesa das liberdades de imprensa e, de modo mais amplo, de expressão ganha cada vez mais importância na América do Sul. Não apenas devido ao avanço do autoritarismo do caudilho Hugo Chávez contra jornais venezuelanos independentes, mas também ao recrudescimento, na Argentina, do cerco aos grupos “Clarín” e “La Nación” comandado da Casa Rosada pelo casal Kirchner. E a esses dois movimentos liberticidas se soma a ação de grupos políticos no continente, com representação no Brasil, em apoio a este garroteamento do jornalismo profissional, não chapabranca.

As intenções deletérias desses grupos de esquerda autoritária, neopopulistas, foram expressas semana passada, em Buenos Aires, no XVI encontro do Foro de São Paulo, organismo fundado na década de 90 para essas correntes políticas trocarem experiências, ajudarem-se mutuamente. Foi naquela época e desta forma que Lula e outros dirigentes petistas mantiveram contato com as Farc, que não estiveram presentes em Buenos Aires. Esperase que o Foro tenha concluído não ser saudável misturar-se à narcoguerrilha.

A ausência das Farc no encontro de Buenos Aires, entretanto, não tornou suas conclusões menos tóxicas para a democracia.

Como tem sido praxe nesse tipo de reunião – vide a Confecom no Brasil -, defendeu-se a “democratização dos meios de comunicação” e a limitação na “concentração dos meios”, termos cifrados para designar a censura em nome do “social” e dos “direitos humanos”, bem como a debilitação das empresas independentes de comunicação, para que passem a mendigar verbas públicas, fórmula infalível destinada a sufocar de vez a liberdade de imprensa.

Daí o tal encontro ter elogiado a Argentina, onde o casal Kirchner empreende novo ataque ao “Clarín” e ao “La Nación”.

Nos últimos dias, a Casa Rosada, como sempre de maneira arbitrária, cassou uma licença do grupo “Clarín” de provimento de serviços de internet e acelerou a escalada para tomar o controle da Papel Prensa, única fábrica de papel de imprensa do país, dona de 75% do mercado interno. Nesta empresa, o Estado argentino, com 28,08% das ações, é sócio do “Clarín” (49%) e do “La Nación” (22,49%), e tem feito de tudo para assumir toda a fábrica, com intenções óbvias. O agressivo e todo poderoso Guilhermo Moreno, secretário de Comércio Interior dos Kirchner, já fez inclusive ameaças de agressões físicas para conseguir afastar os grupos privados da empresa.

Para os brasileiros há um fator adicional de inquietação: o PT participou da reunião do Foro na capital argentina e subscreveu todos estes atentados às liberdades democráticas. Por irônica coincidência, enquanto PT e aliados latino-americanos urdiam contra as liberdades na Argentina, a candidata do partido, Dilma Rousseff, firmava, no Congresso da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), no Rio, a Declaração de Chapultepec, um decálogo aprovado pela imprensa das Américas em defesa da liberdade de imprensa e expressão como principal pilar da democracia.

Num possível governo Dilma, valerão o ato e as palavras da hoje candidata a favor das liberdades ou a intenção autoritária de militantes do seu partido? Não há por que duvidar da líder nas pesquisas eleitorais. Daí quanto mais cedo ela enquadrar os porões petistas, melhor para todos. Inclusive seu governo.



Íntegra do relatório

Valorizar a comunicação como um Direito Humano, não como uma mercadoria.

Se conseguiu que a Comunicação faça parte da agenda pública em muitos países da América Latina.

As leis não são o ponto de chegada, mas sim uma etapa de um processo de construção social e político; motivo pelo qual devemos revaloizar o papel das organizações e movimentos sociais e a relação do social com o político.

Devemos ter presente que uma lei é sempre manifestação de uma determinada correlação de forças existente em uma sociedade.

A experiência argentina explicita a necessidade de que exista uma pluralidade e diversidade de vozes e que o Estado tenha um rol protagonista nesta área, na formulação de políticas públicas sobre esta temática e em colocar limites á concentração dos meios.

É importante neste sentido aprofundar a relação entre o social e os poderes legislativo e judiciário, partido da realidade de cada país.

Resulta interessante analisar as experiências do Brasil, Paraguai e Argentina, que com distintas formas organizativas e de participação social conseguiram colocar em debate a credibilidade dos grandes meios de comunicação e, entre outras conclusões, se constata que caíram os níveis de venda e-ou audiência dos mesmos (diários e TV especialmente).

Reconhecer quais são as fissuras e contradições do sistema em cada nação latinoamericana, que nos permita desenhar e implementar estratégias de comunicação.

Propomos então uma série de tarefas, nas quais a experiência da lei de serviços de comunicação audiovisual da Argentina aparece como uma experiência imprescindível, porém devemos seguir trabalhando por sua implementação.

É preciso sustentar as instâncias de capacitação, assim como também a construção de meios próprios por parte das organizações sociais e das diferentes estruturas políticas.

Aprofundar o fortalecimento de redes e a relação da integração regional com o fortalecimento dos próprios processos em cada país. Neste sentido aparece como prioritária a elaboração de conte[udos ou uma maior coordenação entre organizações e meios, quanto a difusão dos fatos que ocorrem em cada lugar.

Foi proposto socializar entre os participantes do encontro, as páginas da Internet de cada país onde se pode encontrar informação verídica a respeito a situações que se apresentam em cada qual.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Olívio Dutra: “Pós-Lula seremos o mesmo partido. O PT não é de meia dúzia.”

Olivio Dutra


Por Rachel Duarte do sítio Sul21


Em meio à correria de campanha, o ex-governador Olívio Dutra reservou um tempo para conversar com o Sul21. Olívio está contribuindo com as candidaturas de Tarso Genro (PT) ao governo gaúcho e de Dilma Rousseff (PT) à Presidência da República. Um dos fundadores do partido e amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele falou sobre a necessidade do PT preservar a essência do partido e não cair na vala comum da política. Também avaliou a influência da mídia no caso Ford, que marcou seu governo em 1999. Como explicação para o clamor dos militantes, o lendário Olívio Dutra atribui seu carisma a um trabalho coletivo.

Sul21 – O senhor já declarou que depois 30 anos o PT corre o risco de passar de partido da transformação para partido da acomodação. O pragmatismo político está sendo a moeda de negociação do partido na disputa de poder?

Olívio Dutra - Esse risco é real. Porque o partido vai assumindo cada vez mais cargos, quantitativamente, na estrutura do estado brasileiro, nas suas três dimensões e com quadros novos. Isso por um lado é positivo e por outro significa um descolamento, um desenraizamento e, de certa forma, uma flexibilização do conteúdo básico que deu razão à existência do PT.

O PT não é um partido que surgiu dos gabinetes legislativos e executivos. O PT surgiu das lutas que parcela do povo brasileiro empreendeu numa quadra seriíssima da história brasileira ainda sobre a ditadura. E o PT lutou com outras forças contra a ditadura, pelas liberdades, pela democracia e já lutava desde o início por uma transformação social, econômica e preservando matrizes, raízes e pluralidades da formação cultural do nosso povo. Essa foi a força e compromisso que motivou o surgimento do partido. É um partido para transformação e não um partido para que na medida em que fosse assumindo cargos na institucionalidade fosse contemporizando com ela e aos poucos se acomodando nela. E não raras vezes temos visto isso acontecer em vários setores. E não foi de graça que passamos por uma crise profunda, que está ligada com este comportamento desviado do que é a política para nós: uma construção para o bem comum com o protagonismo das pessoas. Os cargos não podem ser mais importantes que as estruturas da base partidária.

É por isso que eu prego a formação permanente. O PT, como um partido de esquerda e do socialismo democrático tem que trabalhar permanentemente com a formação. Mas evidentemente que não é uma imposição de sábios que estão chegando. É uma formação onde todos os níveis e bases partidárias aprendem uns com os outros e muito mais com o povo, através das relações com os movimentos sociais.

Essa ideologia permite uma coalizão tão ampla como no governo Lula, por exemplo?

Nós estamos tendo problemas na relação com os movimentos sociais exatamente por conta de uma visão que eu acho distorcida da relação que um partido deve ter enquanto governo, com os mandatos e os movimentos sociais. Partido é uma parte da sociedade que tem uma proposta, um projeto, uma visão de estado e de país. Então, uma vez assumindo mandatos executivos e legislativos eles não podem ser atomizados na conduta pessoal/individual dos exercentes destes mandatos. Quando no governo, nós temos os limites institucionais, mas isso não pode justificar o ato de desviar o rumo. Pode ser elemento para o debate na base da sociedade e para o aprendizado comum do que é o estado, do que são as estruturas institucionais legais que precisam ser alteradas.

Nos primeiros momentos de crescimento do nosso partido os melhores quadros tiveram que ser destacados para funções legislativas ou executivas, na estrutura institucional. Isso causou um certo impacto na vida partidária. Então tinha que ser retomado isso para as instâncias partidárias passarem a ter a importância que devem ter, mas sem se confundir partido e governo. Nós temos é que dar sustentação para os governos que elegemos, mas não subordinar o projeto estratégico do partido às condições que os nossos governos vão ter para objetivamente executar programas. Assim como nós não podemos exigir dos outros governos aquilo que eles não podem fazer. Nós temos que saber trabalhar nestas duas pontas e investir num processo de protagonismo social que mude as estruturas do estado brasileiro para serem democráticos e de controle público e não privado de quem quer que seja.

Formação permanente

Temos que saber dialogar com os diferentes. A esquerda não é unipartidária, nunca defendemos a ideia do partido único. O limite para as alianças são os programas, a relação com a coisa pública, a visão republicana radical. A coisa pública não é propriedade dos governantes e seus amigos e muito menos dos mais influentes. Temos que representar os interesses públicos e quem estiver centrado nesta ideia já tem proximidade conosco. Quem respeita os movimentos sociais, como sujeitos no processo de mudanças e vê a questão social como um instrumento de política e não de repressão também se aproxima com nossos princípios. Os eixos do desenvolvimento sustentável, políticas públicas para o meio ambiente e cultura também são importantes. Construir programas nestes eixos pode selar coalizões com partidos diferentes.

Qual é a sua avaliação do governo Lula? Ele deixou lacunas em setores de forte identificação ideológica com o PT, vemos isso no exemplo da desejada Reforma Agrária que não ocorreu nos seus mandatos.

Nós não podíamos exigir do nosso governo aquilo que ele não poderia fazer na co-relação de forças criada. Mas nem por isso temos que arriar as bandeiras da reforma agrária, urbana, tributária, política. Estão longe de ter sido alcançadas essas reformas fundamentais para mudar a qualidade da relação do estado com a sociedade brasileira. O governo Lula fez de tudo para, no tempo dos seus mandatos, que tem prazo legal diferente dos partidos, mudar a estrutura do Estado.

O presidente Lula encaminhou em abril de 2003 uma proposta de Reforma Tributária que seria uma transformação. Combinada com distribuição de renda, com diminuição das distorções na distribuição do bolo de arrecadação. Mas ficou lá. Mesmo em um governo de coalizão que teve que ser formado, não se teve maioria para aprovar uma reforma tributária com aquela envergadura. Onde quem tem mais paga mais e quem tem menos paga menos. O poder público não abdicaria de nenhum centavo da sua receita. A receita iria para atender as prioridades dos cidadãos, definidas junto com a população junto de processos parecidos com o Orçamento Participativo. Há avanços importantes na inclusão social, infraestrutura, ensino público nos três níveis, mas há muito o que avançar ainda. Nestes oito anos nos transformamos num país menos desigual, mas ainda somos um país de enormes distâncias em concentração de renda. Mesmo depois de tudo que se fez no governo Lula de aumentar a renda dos mais pobres. O Brasil não pode andar pra trás.

É justamente este o discurso do candidato da Unidade Popular pelo Rio Grande, Tarso Genro (PT): de que o RS não avançou junto com o país. Esta é a aposta da campanha?

Nós temos aqui décadas de governo do modelo da senhora governadora Yeda Crusius (PSDB). O PMDB e este grupo de partidos que estão hoje no governo estadual, governaram este Estado a partir da ditadura. Só teve um governo diferenciado, o de Jair Soares. Eu penso que o governo do Alceu Collares e o da Frente Popular foram dois momentos distintos dos demais que hoje representam a situação. Foi nestes dois governos que o Estado teve uma recuperação. No governo da Frente Popular o RS cresceu acima da média nacional. Interrompeu um período de queda no seu PIB, tanto agropecuário como industrial, e cresceu com melhor distribuição de renda. Nós tivemos a oportunidade de ter o melhor salário mínimo regional do país. Houve geração de novas oportunidades para a agricultura familiar, os sistemas locais de produção, a renúncia fiscal que nós implementamos para não deixar o dinheiro público na mão dos poderosos. Houve uma inversão de prioridades. A nossa derrota fez com que a política do Estado como patrimônio privado para grupos retornasse, fazendo bons negócios para si com o dinheiro público. Não é à toa que o governo atual esteve envolto em suspensões seriíssimas de espaços públicos para pessoas de dentro do governo fazerem negócios. O Tarso irá recuperar as estruturas do estado para os interesses públicos e nas políticas para o desenvolvimento regional, sustentável. E é isso que irá sintonizar o Rio Grande com o projeto de Brasil-nação. O Tarso tem esta tarefa e tem essa importância a sua eleição.

Coerência no voto

A pergunta que ficou no ar na coletiva de imprensa quando o presidente Lula esteve em Porto Alegre no dia 29 de julho foi o que tanto o senhor e o presidente conversaram no palanque? Haviam bastante sorrisos.

Não. Não era nada. Apenas uma conversa solta.

Em maio deste ano o Sul21 alertou a imprensa para a sentença que condena a Ford Brasil Ltda. a indenizar o Estado. Ficou reconhecido o rompimento contratual por parte da montadora. Mas isso só veio a público pelo nosso jornal, apesar da sentença estar disponível desde o início do ano. O senhor sentiu desequilíbrio no tratamento do assunto por parte da mídia na época e agora?

A mídia não é um ente acima de tudo e de todos. A mídia é um dado da realidade e parte dela está vinculada a interesses econômicos poderosos, afinal são empresas. Fazem negócios com as notícias e escolhem, analisam quais os governos que facilitam para elas esta relação comercial. Bueno. Para essa parte da mídia não interessava um governo como o nosso, que entendia que o dinheiro público não era para facilitar negócios privados, era para qualificar a vida da maioria da população. Nós reduzimos os recursos para publicidade e entramos em choque com estes grupos. Depois, também com a renúncia fiscal, que sustentava esta parte da mídia que vivia de contas de publicidade altíssimas motivou-a a agir de forma ideológica, defendendo os seus interesses. A iniciativa teria todo o nosso apoio, desde que arriscasse investimentos com seus recursos e assumisse o risco. Não com o prejuízo para o Estado. E parte considerável da mídia vive desses negócios e tem o pensamento de como o governante deve se relacionar com ela.

A sentença lhe trouxe alívio?

Eu não me senti perseguido pela mídia neste caso. Sempre foi claro os interesses desta mídia. Distorcer a verdade ou não, falar efetivamente o que acontecia faz parte deste jogo. A mídia com os canhões que tem na mão, com a pretensão de formar a opinião, evidentemente que pode influenciar parte da sociedade. Dentro do próprio PT houve dúvidas. A disputa no governo seguinte deu no que deu por conta que dentro do PT se contaminou a pressão desta parte da mídia e, ao invés de o partido se unir e enfrentar com toda a força e tranqüilidade a situação, tentou-se flexibilizar, negociar. O que aconteceu ali foi fundamental, tinha que acontecer assim, se não nós iríamos flexibilizar num ponto chave do nosso programa: a renúncia fiscal.

Existe morosidade ou influência política na justiça brasileira?

Nós achamos que o poder judiciário não pode ser um poder impune num país democrático, como é aqui no Brasil. Em várias democracias, as mais consolidadas, e não só nos países do leste europeu, a população já elege um percentual considerável de integrantes de diferentes tribunais do judiciário. Claro que os candidatos tem que preencher critérios, mas não é lista para o governante indicar, é pelo voto da cidadania. Aqui este tema parece ameaçar as estruturas.

O senhor foi o candidato do PT por diversas eleições, porque neste ano não foi o candidato do partido?

Eu não sou candidato conscientemente. Fui presidente do PT já na sua fundação e depois em outros momentos. Sempre em momentos difíceis do partido eu estava lá, inclusive sendo candidato. Não só para pensar em ganhar, mas para firmar o partido. Então eu entendi que o partido já está suficientemente amadurecido com o seu quadro para distribuir suas responsabilidades e eu não preciso ser candidato em tudo que é eleição. Atuo no partido desde a sua fundação, ao lado do presidente Lula. O Tarso não é do grupo fundador do PT, é bom lembrar. Ele entrou no partido em 1984. Mas foi bom que ele tenha entrado, junto com outros importantes quadros que de lá pra cá entraram no partido e ajudaram a enriquecer o PT com práticas e idéias. Eu entendo que por ter concorrido quase em todas as outras eleições chegou a hora de não ser candidato a nada. A política também se faz com gestos. Estou na função de afirmar a importância de um projeto partidário e estou em plena campanha. Integrando os comitês da campanha Dilma e do Tarso aqui no Estado para eleger a presidenta e o governador. Mas também trabalhar essas coisas de conteúdo de programas e de formação política e aprender. Mas eu me orgulho de ter sido prefeito de Porto Alegre, deputado constituinte, governador, fui convocado para ser ministro das Cidades, tudo pelo PT. Então me orgulho disso e penso que eu posso ajudar a mudar o PT e o pensamento democrático sem ser candidato a nada e nem depender de cargos. Sempre temos oportunidade de aprender e transmitir essa trajetória de vida.

Mas qual é o seu diferencial, pois o clamor é forte. Não lhe seduz ser o mais aplaudido nos eventos políticos ou partidários?

Isso é fruto da identidade coletiva que eu represento. Mas que precisa ser aperfeiçoada constantemente. O partido é um sujeito coletivo, não sou eu. É construído por milhares de mãos e tem que se renovar sem perder o rumo com a esquerda e o socialismo democrático.

Além de formação política o senhor está agregando outras formações. O senhor voltou aos bancos da Universidade?

Sim. Eu fiz curso de licenciatura em Língua Portuguesa e Inglês, em 1975. Agora a Ufrgs (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) abriu a possibilidade de voltar a estudar. Fui aprovado na seleção e passei o primeiro semestre indo para a aula. No segundo semestre, vou precisar estudar melhor a minha planilha de horários porque vou ser mais demandado por conta das eleições. Mas pretendo conciliar os horários e continuar os meus estudos.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Como o oposição reunificou o PT: O efeito colateral do discurso neo-udenista


Por Maria Inês Nassif do Valor

Na campanha, o PT consegue reunir de volta sua antiga militância e o PSDB tem perdido a sua

A excessiva fixação do PSDB e do DEM no eleitorado de centro e de direita, com correspondente radicalização do discurso, tem estreitado as margens de manobra dos dois maiores partidos de oposição. A agressividade de um discurso tomado da direita ideológica produziu, em 2006, um fenômeno que deve se repetir em 2010. É esse discurso que, em ano eleitoral, têm trazido os movimentos sociais que atuam à esquerda do PT – e que beberam da mesma fonte no passado – de volta à sua órbita.

No primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006), houve um gradativo afastamento de setores sociais que, na origem petista, eram a militância mais aguerrida do partido. Era ininteligível para os movimentos um acordo de governo tão amplo que abrigava interesses do mercado financeiro e do agronegócio, ao mesmo tempo em que investia em programas sociais de transferência de renda, no microcrédito e no apoio à agricultura familiar. Quando o Bolsa Família começou a produzir, de fato, efeitos de distribuição de riqueza, os movimentos sociais viram-se com um grande abacaxi nas mãos. Não era possível se contrapor a um programa de complementação de renda, que atacava cidadãos expostos à miséria absoluta, mas, se o Bolsa Família produzia o efeito de tirar os miseráveis da órbita de influência da política tradicional, tinha também um efeito desmobilizador na base desses movimentos. A luta reivindicatória, que se iniciava pela educação para a cidadania, também foi neutralizada.

O episódio do chamado mensalão, em 2005, levou o PT e os movimentos sociais ao quase rompimento. Do lado institucional, houve o racha do PSOL. Quando os dissidentes saíram, em meio a um Fórum Social Mundial, a impressão que se tinha era a de que levariam consigo boa parte da esquerda do PT, além da militância ligada à igreja progressista e que foi responsável pela capilarização do partido, na sua origem. A ação da oposição legislativa, amplificada e em processo de retroalimentação com a mídia, acabou revertendo esse processo. O PSOL ficou pequeno. Os movimentos sociais tomaram rumo próprio, sem a ligação umbilical que tinha com o PT na origem do partido, mas evitaram um confronto direto com o governo. A maior parte da esquerda petista permaneceu. O clima pré-64 preservou os quadros de esquerda do PT e impediu uma ofensiva dos movimentos sociais mais à esquerda contra o governo Lula.

Nas vésperas das eleições de 2010, os movimentos sociais se alinharam a Lula, por duas razões. Primeiro, porque não tinham condições de se contrapor às suas bases, seduzidas pelos programas de transferência de renda e com alto grau de satisfação com o governo. Mais do que isso: é uma população atraída pelo carisma do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e é muito difícil andar na contramão de um líder carismático cujo governo, ao fim e ao cabo, produz satisfatórios resultados sociais. Por fim, por medo de uma radicalização à direita que comprometesse os avanços que tinham ocorrido no governo Lula. O maior temor do Movimento Sem Terra em 2006, por exemplo, era a hipótese de vitória de um governo tucano, que no período FHC havia assumido uma política radical de criminalização do movimento.

Para as esquerdas e os movimentos sociais, o retorno à órbita de influência do PT, em 2006, foi algo como “ruim com Lula, pior sem ele”. De lá para cá, o processo de direitização do PSDB e do DEM se acelerou e os resultados do governo na promoção da distribuição de renda tornaram-se mais claros. Às vésperas das eleições, a reincorporação das esquerdas e dos movimentos sociais à órbita petista ocorre novamente. Se o discurso neo-udenista da oposição teve o efeito, nos setores conservadores, de acirrar o antipetismo, em setores progressistas teve o efeito colateral de tornar mais acirrado o antitucanismo e o antidemismo.

A estabilidade do segundo governo de um presidente que foi ameaçado de impeachment no primeiro mandato não é, portanto, um produto exclusivo de seu carisma. Ao mesmo tempo em que o governo incorporava ao mercado de consumo enormes levas de excluídos – e alienados – brasileiros, Lula e o PT reincorporavam movimentos sociais que haviam se descolado ao longo dos primeiros anos do primeiro mandato.

A aritmética desse processo político se expressa nos resultados das últimas pesquisas de opinião, amplamente favoráveis à candidata do PT à sucessão de Lula, a ex-ministra Dilma Rousseff. O discurso udenista estreitou o espectro político da oposição, ao mesmo tempo em que provocou uma reunificação numa esquerda divida por um governo excessivamente amplo, que contemplou interesses muito diversos aos defendidos originalmente pelo PT. O partido de Lula, que desde a derrota de 1998 ampliou o seu discurso em direção também ao centro ideológico, acabou sendo avalizado pelos próprios setores conservadores por cumprir as promessas de campanha feitas com a espada do mercado financeiro no pescoço. Não houve quebra de contrato.

Não é uma situação fácil para um candidato oposicionista. Em especial porque o primeiro governo de Lula, marcado por políticas econômicas ortodoxas, rachou também uma base de apoio que era originalmente tucana. O candidato do PSDB, José Serra, não pode acenar com mudanças nem à direita, nem à esquerda – à direita, afugenta a base tradicional tucana; à esquerda, provoca efeito de aproximação maior da base tradicional da esquerda com o PT.

Enquanto, pelo menos em período eleitoral, o PT consegue reunir sua antiga militância, o PSDB, ao se aproximar do discurso do DEM, tem perdido a sua. Alguns setores intelectuais de perfil social-democrata que estiveram na origem do partido até embarcam no discurso antipetista, principalmente em São Paulo, onde há uma polarização que está se tornando histórica, mas dificilmente se incorporam novamente à militância, ou voltam a ser quadros partidários.

Maria Inês Nassif é repórter especial de Política.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Minha Agenda para este Final de Semana

Hoje
19:00 - Festa da Inês Pandeló na Lapa/Rio.

Sexta-feira
14:00 - Caminhada em Nova Iguaçu.
19:00 - Encontro Política, Samba e Cerveja, sindicato dos profissionais de consultoria na Cinelandia-Centro/Rio.
19:00 - Mobilização da Campanha Dilma na sede do PT-Mesquita.
23:00 - Vôo noturno na Lapa.

Sábado
9:30 - Caminhada dobrada Taffarel-Cantalice em Santa Terezinha - Saída em Frente ao açougue Três Irmãos.
15:00 - Caminhada dobrada Taffarel-Cantalice na Chatuba.
17:00 - Panfletagem e festa em São Gonçalo.

Domingo
08:00 - Café com Política em Nilópolis e caminhada na feira.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

TV Cultura: a saga de desmonte do patrimônio público





Trabalhadores da TV Cultura vivem dias de tensão na emissora sob ameaça de demissões, enquanto o bem público segue servindo ao privado em São Paulo

Por Débora Prado

Os funcionários da TV Cultura estão preocupados. Não é para menos. Há anos não recebem um reajuste real no salário, nem hora extra, as denúncias de assedio moral são recorrentes e cada vez mais a carteira assinada é substituída pelo famoso PJ (quando o funcionário é obrigado a se tornar uma ‘pessoa jurídica’ para que num contrato entre ‘empresas’, o patrão não precise arcar com os direitos trabalhistas). Para piorar, no começo do mês, o colunista do R7 Daniel Castro afirmou que a direção da emissora prepara uma reestruturação que deve gerar mais de mil demissões.

Os rumores consternaram e não é para menos. Embora não haja nenhuma confirmação dos cortes, o economista João Sayad – a frente da presidência da Fundação Padre Anchieta - também não afirma que os empregos serão mantidos. A precarização das condições trabalhistas é crescente e, pior, é apenas um dos braços do desmonte e desvio da emissora, que deveria ser um bem público paulista.

Sayad fala somente em uma ‘reestruturação de conteúdo’ e em enxugar o orçamento. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo no dia 9 de agosto, disse que a grade da televisão está sendo estudada e haverá repercussões. Em reunião com o Conselho da emissora, falou em abrir o espaço para “produções independentes”.

Está armado o golpe. Com o PSDB há 20 anos a frente do governo estadual em São Paulo, acontece na cultura o que já aconteceu em várias outras áreas: a administração promove o desmonte de um bem público e depois o acusa de ineficiência para privatizar.

O discurso é frágil e baseado em premissas generalistas. Por exemplo, a emissora pode não custar tão caro quanto ele diz. Um dos funcionários fez uma conta simples e apresentou na última assembleia: a partir de um DVD institucional comemorativo calculou que, nos 41 anos de vida da emissora, ela recebeu, em média, R$ 87 milhões (valores atualizados) por ano. O montante, dividido pelos cerca de 40 milhões de habitantes do Estado, resulta na pouco substanciosa cifra de R$ 2,18. Ou seja, a emissora custa ao contribuinte menos de três reais POR ANO.

A TV Cultura já não produz nenhum programa infantil, área bem reconhecida por grande parte do público. A programação para jovens e adolescentes também está sendo atacada. Já acabaram com as gravações do Teatro Rá Tim Bum, Cocoríco, Pé na Rua e Cambalhota. O próximo alvo deve ser o Login, que, segundo os rumores internos, deve parar de ser gravado em algumas semanas.

O Manos e Minas, um dos poucos programas na televisão brasileira que retratava o universo do jovem da periferia, já parou de ser gravado. No dia 5, uma movimentação no twitter com a tag #salveomanoseminas ficou no trending topics Brasil, ou seja, foi uma das mais citadas na rede social do País. Diante dos protestos, estão sendo colhidas assinaturas para um abaixo assinado contra o fim do programa (veja mais informações). A equipe continua indo na emissora, pois o contrato ainda não acabou, mas não sabe o que fazer. Para piorar, dos 18 funcionários, 17 são contratados pela fraude dos PJs e estão em situação super instável.

Sayad pegou os trabalhadores que de fato constroem a grade da emissora em dois pontos sensíveis: a autoestima e o emprego. Em assembléia em frente à emissora no dia 9 de agosto, muitos deles defendiam a qualidade da programação e aquilo que deveria ser a essência de uma TV pública. O deputado federal Ivan Valente (PSOL) esteve lá conversando com os funcionários e disse que “onde há fumaça, há fogo”, classificando a reestruturação como um ataque a lógica do que deve ser uma emissora pública e uma ameaça ao emprego e dignidade dos trabalhadores.

Outra assembléia aconteceu no dia 12 de agosto, na praça em frente às instalações da Cultura, em São Paulo. O Sindicato dos Radialistas de São Paulo e o dos Jornalistas devem realizar assembléias todas as quintas-feiras para tentar frear as demissões. A idéia é conseguir uma liminar na justiça que impeça qualquer corte enquanto a situação está em debate.

Segundo a direção informou às lideranças sindicais, há hoje na Cultura 2.150 funcionários, sendo 880 contratados pelo esquema de PJs. Alguns funcionários relataram, ainda na assembléia, que trabalham como cooperados. Desse total, cerca de 450 funcionários da Cultura estão atuando na TV Justiça e TV Assembleia e estão com os contratos para vencer – correndo sério risco de perder seus empregos. Os números não são exatos, nem oficiais e há muito pouca transparência nesse sentido.

A TV cultura não pertence ao Governo, mas sim ao público de São Paulo, ou seja, a sociedade civil. Ela deveria ser supervisionada pelo Conselho Curador, que infelizmente atua mais ratificando os desmandos tucanos do que supervisionando de fato se a concessão está servindo ao interesse público.

É pública
Grosso modo, o patrimonialismo é a característica de um Estado que não possui distinções entre os limites do público e do privado. O termo foi muito usado para qualificar as monarquias do absolutismo. Pois em São Paulo, alguns monarcas tucanos parecem possuir tal qualidade. Quando não privatizam diretamente, se apropriam do público para atender aos interesses privados dos grupos próximos da sigla. Isto acontece na educação, na saúde, nos transportes e até na coleta de lixo. E acontece também na comunicação.

A TV Cultura é uma rede pública e não estatal. Mas, não atua como tal. Não deveria servir ao governo do Estado, muito menos a mandatos específicos, mas na prática a coisa se complica. Ser pública significa que a vontade da sociedade civil deveria ser consultada antes de qualquer mudança estrutural. Funciona ali a mesma lógica que torna o Brasil um campo de batalha pela democratização das comunicações, onde a mídia é um dos mais fortes aparelhos privados de hegemonia ideológica.

O sistema de comunicações brasileiro é uma “herança maldita” da ditadura militar, que funciona via incentivo estatal ao desenvolvimento do capital privado. Em 1998, Fernando Henrique Cardoso, do mesmo PSDB, promoveu a maior privatização na área e rifou o Sistema Telebrás.

E o governo Lula não mudou este modelo. Os meios de comunicação seguem centrados nas mãos de poucos grupos e as concessões públicas de televisão vencidas foram renovadas automaticamente, sem nenhum debate com a população. A nomeação de Hélio Costa (PMDB), conhecido no movimento pela democratização como "o ministro da Globo", é emblemática.

Desenvolver uma verdadeira TV pública no Brasil implicaria numa concepção realmente pública de radiodifusão, subordinada então ao controle público (não só estatal, mas também da população) e não à lógica comercial. Deveria conter uma programação interessante e de qualidade que representasse a diversidade cultural e regional do País.

Para isto, seria necessário termos o controle social da mídia, que poderia funcionar, por exemplo, por meio de conselhos onde a população e o os trabalhadores de uma emissora pudessem estar devidamente representados. Mas a pequena parcela que senta em cima da comunicação brasileira atualmente não abre espaço para este debate. Quando se fala em democratização pelo controle social logo gritam – censura! E fim de papo.

Débora Prado é jornalista
debora.prado@carosamigos.com.br

Fonte: revista Caros amigos

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Política, Samba e Cerveja - Bate Papo com TAFFAREL

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Lula fala aos internaut@s

Ministério da Saúde desmente José Serra


Nota oficial do Ministério da Saúde:

Em relação a declarações feitas pelo presidenciável José Serra, na noite desta quarta-feira (11), a respeito da realização de cirurgias eletivas, mutirões, prevenção de doenças e saúde da mulher na atual gestão, o Ministério da Saúde esclarece:

1) Não é verdade que houve redução no número de cirurgias eletivas. Os mutirões foram incluídos na Política Nacional de Cirurgias Eletivas, criada em 2004. Essa política incorporou aos quatro procedimentos que eram realizados até então (catarata, próstata, varizes e retinopatia diabética) outros 86 procedimentos, totalizando 90 tipos de cirurgias eletivas.

2) Com a ampliação, o número de cirurgias eletivas realizadas, considerando esses 90 tipos de procedimentos, passou de 1,5 milhão, em 2002, para 2 milhões, em 2009.

3) Em 2009, a quantidade de cirurgias de catarata, por exemplo, foi maior que em 2002, tido como o ano auge dos mutirões. Naquele ano, foram 309.981. Em 2009, o SUS realizou 319.796 cirurgias. E, no decorrer de sete anos (de 2003 até 2009), a quantidade de cirurgias de catarata chegou a 1,9 milhão de procedimentos;

4) Também é incorreto dizer que a prevenção de doenças “ficou para trás”, como afirmou o candidato. Houve avanços inegáveis nesta área, como alguns exemplos a seguir: o Brasil interrompeu a transmissão do cólera (2005) e da rubéola (2009); a transmissão vetorial de Chagas, em 2006; e eliminou o sarampo, em 2007. Estamos próximos da eliminação do tétano e foram reduzidos as mortes em outras 11 doenças transmissíveis, como tuberculose, hanseníase, malária e Aids. O país realizou as duas maiores campanhas de vacinação do país e do mundo: a de rubéola, em 2008, e a contra a gripe H1N1, neste ano;

5) Ainda, em programas estruturantes de prevenção, a cobertura populacional do Saúde da Família cresceu 61% em todo o país – o número de equipes saltou de 19.068 (em 2003) para 30.782 (até março deste ano). Entre suas principais tarefas estão a promoção da saúde e prevenção de doenças. As equipes podem resolver até 80% dos agravos de saúde da população;

6) Em relação à saúde da mulher, para a qual o candidato afirma que há problemas, o Ministério da Saúde informa que a gravidez na adolescência caiu 20% entre 2003 e 2009, e o investimento no planejamento familiar aumentou 605%, totalizando R$ 72,2 milhões, em 2009, para a compra de pílulas e outros contraceptivos. Houve um aumento de 125% nas consultas pré-natal (total de 19,4 milhões em 2009). Na prevenção, o suplemento de saúde da PNAD 2008, feita pelo IBGE, apontou que a proporção de mulheres de 50 a 69 anos que se submetem a mamografia passou de 54,8% em 2003 para 71,5%, em 2008.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

AGENDA CAMAPANHA TAFFAREL

14/08 – Sábado - Festa do Padroeiro de Valença.

9h30 Caminhada dobrada Taffarel-Cantalice em Maria Cristina c/Benildes - concentração rua ao lado da Supergasbrás.

17h Reunião com lideranças e simpatizantes em Marica.

18h Lançamento da Campanha Zeidan em Marica.

18h Encontro Cerveja e Política na Cruz Vermelha/ Centro-Rio.

19h Reunião com militantes da PJ em Nova Iguaçu.

 

15/08 - Domingo

09h Missa no Seminário Paulo VI em Nova Iguaçu.

10h Concentração na Praça Elizabeth Paixão/Mesquita.

16/08 - Segunda

Mobilização da Campanha TAFFAREL Galpão da Rua Ônix/Mesquita.

 

17/08 - terça

16h Reunião da coordenação estadual da campanha.

18h Debate com militantes e simpatizantes da capital promovido pela 1ª Zonal do PT.

 

18/08 - Quarta

11h Instalação da 1ª Vara Federal na Baixada Fluminense, em Nova Iguaçu.

17h Banderaço da Dobrada Taffarel-Cantalice em Edson Passos.

 

20/08 - Sexta

14h Caminhada em Nova Iguaçu.

19h Encontro Política, Samba e Cerveja, sindicato dos profissionais de consultoria na Cinelandia-Centro/Rio.

19h Mobilização da Campanha Dilma na sede do PT-Mesquita.

23h Vôo noturno na Lapa.

 

21/08 – sabado

9h30 Caminhada dobrada Taffarel-Cantalice em Santa Terezinha - Saída em Frente ao açougue Três Irmãos.

15h Caminhada dobrada Taffarel-Cantalice na Chatuba.

17h panfletagem e festa em São Gonçalo.

 

22/08 - domingo

08h Café com Política em Nilópolis e caminhada na feira.

10h Bom Dia Dilma, na orla de Copacabana.

 

27/08 - sexta

18h reunião com lideranças e simpatizantes em Três Pontes/Queimados.

20h panfletagem em Queimados.

 

29/08 - domingo

13h almoço na Zona Oeste.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Serra no JN foi um desastre: pelo menos 8 mentiras, 2 contradições e 9 erros políticos

A entrevista de José Serra (PSDB/SP) no Jornal Nacional foi um desastre. 
Contamos 8 mentiras, 9 erros políticos, e Serra ainda conseguiu cair em contradição duas vezes dentro da mesma entrevista. É muita coisa para um candidato só em 12 minutos de entrevista.

Em vermelho (negrito e sublinhado) estão nossos comentários daqui do blog.

William Bonner: A entrevista vai durar 12 minutos, e o tempo começa a ser contado a partir de agora. Candidato, desde o início desta campanha, o senhor tem procurado evitar críticas ao presidente Lula. O senhor acha que... E em alguns casos fez até elogios a ele... o senhor acha que essa é a postura que o eleitor espera de um candidato da oposição?

Tal qual um lobo em pele de cordeiro, Serra quer se apresentar como candidato pós-Lula e não de oposição a Lula. A pergunta foi feita para tentar neutralizar a imagem anti-Lula.

Na pergunta, Bonner incluiu uma afirmação do interesse dos marqueteiros de Serra: "fez até elogios a Lula"... Bonner levantou a bola para Serra cortar.

Detalhe: no vídeo nota-se Serra remexendo-se na cadeira, e engolindo em seco, antes de responder.

José Serra: Olha, o Lula não é candidato a presidente. O Lula, a partir de 1º de janeiro, não vai ser mais presidente da República. Quem estiver lá vai ter de conduzir o Brasil. Não há presidente que possa governar na garupa, ouvindo terceiros ou sendo monitorado por terceiros. Eu estou focado no futuro. Hoje tem problemas e tem coisas boas. O que nós temos que fazer? Reforçar aquilo que está bem e corrigir e poder melhorar aquilo que não andou direito. É por isso que eu tenho enfatizado sempre que o Brasil precisa e que o Brasil pode mais. Onde? Na área da saúde, na área da segurança, na área da educação, inclusive do ensino profissionalizante. Meu foco não é o Lula. Ele não está concorrendo comigo.

Serra foi muito ruim... era só cortar a bola levantada... e ele errou 3 vezes:
1ª) Lula não é candidato a presidente, mas tem candidata. Querer tirar a influência do presidente no pleito é um erro. Empurra com a barriga um duelo que ele vai ter que enfrentar. É um erro enfrentar mais à frente, quando estiver mais fraco, e sem tempo para corrigir rumos. 
Serra irritou o eleitor que gosta de Lula, mas ainda não tem candidato, ao querer "aposentá-lo" ou "cassá-lo" do processo político antes da hora.
2ª) Quando ele disse "não há presidente que possa governar na garupa", ele tenta desqualificar a adversária, e com argumento bobo, em vez de mostrar suas próprias qualidades. Isso transparece inveja, fraqueza e insegurança. Não agrada aos eleitores. Além disso, a imagem de uma mulher muito inteligente e capaz, que Dilma passou em sua entrevista na segunda-feira, não combina com alguém que ficaria apenas na garupa.
3ª) Para convencer alguém a votar nele, não adianta só apontar problemas e dizer que vai melhorar. Isso todo político diz. É preciso ter credibilidade, e Serra não tem na área de segurança, nem na de educação, e na saúde só tem um pouco ainda, porque é produto de propaganda enganosa e da blindagem da imprensa, que vem sendo desmascarada graças à internet. Trataremos disso mais adiante.


William Bonner: Entendo. Agora, candidato, o senhor avalia o risco que o senhor corre de essa sua postura ser interpretada como um receio de ter que enfrentar a popularidade alta do presidente Lula?

Olha o Bonner levantando a mesma bola de novo, para ver se Serra acerta dessa vez.

José Serra: Não, não vejo por quê. Eu acho que as pessoas estão preocupadas com o futuro, né? Quem vai tocar o Brasil, quem tem mais condições de poder tocar o Brasil para a frente, que não é uma tarefa fácil. Inclusive de pegar aqueles problemas que hoje a população considera como os mais críticos e resolvê-los. Dou como exemplo, novamente, entre outros, a questão da saúde. Então, o importante agora é isso. E as pessoas estão nisso. O governo Lula fez coisas positivas, né? Outras coisas, deixou de fazer. A discussão não é o Lula. A discussão é o que vem para a frente, tá certo? Os problemas do Brasil de hoje e o que tem por diante.

Serra errou pela 4ª vez. Repetiu o terceiro erro citado acima: Para convencer alguém a votar nele, não adianta só apontar problemas e dizer que vai melhorar, porque isso todo político faz. O erro foi pior porque não foi só no conteúdo. Foi também na forma. A resposta de Serra foi um amontoado de obviedades descritas de forma pouco inteligível. Alguém entendeu o que ele quis dizer exatamente com "Dou como exemplo, novamente, entre outros, a questão da saúde. Então, o importante agora é isso. E as pessoas estão nisso"...?

Fátima Bernardes: O senhor tem insistido muito na tecla de que o eleitor deve procurar comparar as biografias dos candidatos que estarão concorrendo, que estão concorrendo nesta eleição. O senhor evita uma comparação de governos. Por exemplo, por quê, entre o governo atual e o governo anterior?

Fátima jogou pétalas para o candidato, suavizando a pergunta, que deveria ser: por que então o senhor esconde seu papel como ministro do planejamento, homem forte, e escolhido em 2002 para sucessor de FHC?

José Serra: Olha, porque são condições diferentes. Eles governaram em períodos diferentes, em circunstâncias diferentes. O governo anterior, do Fernando Henrique, fez uma... muitas contribuições ao Brasil, entre elas o Plano Real. A inflação era de 5.000% ao ano, né? E ela foi quebrada a espinha. As novas gerações nem têm boa memória disso. E várias outras coisas que o governo Lula recolheu e seguiu. O Antonio Palocci, que foi ministro da Fazenda do Lula e hoje é o principal assessor da candidata do PT, nunca parou de elogiar, por exemplo, o governo Fernando Henrique. Mas nós não estamos fazendo uma disputa sobre o passado. É como se eu ficasse discutindo, para ganhar a próxima Copa do Mundo, quem foi o melhor técnico: o Scolari ou o Parreira?

Serra falou a primeira grande mentira da noite. O plano Real foi feito no governo de Itamar Franco (será ele gostou de ser ignorado pelo Serra na TV?). FHC veio em seguida, e passou 8 anos sem dar nenhum passo adiante. Promoveu um populismo fiscal e cambial no primeiro mandato, que quebrou o país, mas ganhou a reeleição, e governou no segundo mandato remendando o país quebrado.

Fátima Bernardes: Mas...

José Serra: E o Mano Menezes, Fátima, desculpe, fosse estar preocupado em saber quem era melhor para efeito de ganhar a Copa de 14. Isso é uma coisa que os adversários fazem para tirar o foco de que o próximo presidente vai ter de governar e não pode ir na garupa. E tem que ter ideias também. Não só coisas que fez no passado, mas também ideias a respeito do futuro.

A comparação com futebol também foi falsa. Lula é um craque e sairá do governo com mais de 80% de aprovação. FHC saiu com baixíssima popularidade, está mais para o que chamam de "era Dunga" (sendo injusto com Dunga, porque ele, no futebol, é muito superior e vitorioso do que FHC, na presidência).

Fátima Bernardes: Mas, por exemplo, avaliar, analisar fracassos e sucessos não ajuda o eleitor na hora de ele decidir pelo voto dele?

Olha a Fátima levantando a mesma bola de novo, para ver se Serra acerta dessa vez.

José Serra: Por isso... E é isso o que eu estou fazendo. Por exemplo, mostro na saúde. Eu fui ministro da Saúde. Fiz os genéricos, os mutirões, a campanha contra a Aids que foi considerada a melhor campanha contra a Aids do mundo, uma série de coisas. A saúde, nos últimos anos, não andou bem. Por exemplo, queda, diminuição do número de cirurgias eletivas, aquelas que não precisa fazer de um dia para o outro, mas são muito importantes. Caiu, né? Pararam os mutirões. Muita prevenção que se fazia acabou ficando para trás. Faltam ainda hospitais nas regiões mais afastadas dos grandes centros. Tem problemas com as consultas, tem problemas de demoras. Enfim, tem um conjunto de coisas, inclusive relacionadas por exemplo com a saúde da mulher. Tudo isso precisa ser equacionado no presente. Eu estou apontando os problemas existentes.

Serra falou a segunda grande mentira da noite: Os genéricos não foi Serra quem fez. Foi Jamil Haddad no governo Itamar Franco (novamente ignorado por Serra).

Em seguida falou a terceira grande mentira: o programa da Aids não foi de Serra, foi de Lair Guerra e Adib Jatene.

Quanto às cirgurgias eletivas, foram elas ou as fraudes no SUS que diminuíram? Muitas cirurgias que não existiam eram cobradas e contabilizadas como se tivessem sido feitas. Além disso, as pessoas que subiram de classe social, e que arranjaram empregos formais, e tiveram acesso a planos de saúde, e não usaram o SUS, como entram nesta contabilidade?

Serra insiste em mutirões como solução em saúde para o SUS. Mutirão é quebra-galho, não é rede de saúde planejada, que o povo merece, e que funciona.

William Bonner: Agora, candidato, vamos ver uma questão... O senhor me permita, para a gente poder conversar melhor.

José Serra: Sim, sim, claro.

William Bonner: Uma questão política. Nesta eleição, existem contradições muito claras nas alianças formadas pelos dois partidos que têm polarizado as eleições presidenciais brasileiras aí nos últimos 16 anos, né? O PT se aliou a desafetos históricos. O seu partido, o PSDB, está ao lado do PTB, um partido envolvido no escândalo do mensalão petista, no escândalo que inclusive foi investigado e foi condenado de forma muito veemente pelo seu partido, o PSDB. Então, a pergunta é a seguinte: o PSDB errou lá atrás quando condenou o PTB ou está errando agora quando se alia a esse partido?

Bonner fingiu ser duro com Serra com perguntas incômodas, mas na verdade estava levantando a bola para Serra atacar o PT, tanto é que nem tocou no assunto "mensalão do DEM", nem do mensalão tcano, do Eduardo Azeredo (PSDB/MG).

José Serra: William, é uma boa pergunta. O PTB, no caso de São Paulo, por exemplo, sempre esteve com o PSDB, de uma ou de outra maneira. Isso teve uma influência grande na aliança nacional. Os partidos, você sabe, são muito heterogêneos. O personagem principal... Os personagens principais do mensalão nem foram do PTB. Os personagens principais foram do PT, aliás, mediante denúncia do Roberto Jeferson, que era então líder do PTB.

Serra cortou a bola levantada para atacar o PT. 

Mas errou feio (pela 5ª vez) ao defender Roberto Jefferson, dizendo que ele era denunciante. Não era apenas denunciante, Roberto Jefferson é réu e teve seu mandato cassado por falta de ética.


William Bonner:
Os nomes de petebistas, todos, uma lista muito vasta, começando pelo Maurício Marinho.

Bonner insiste no assunto, para requentá-lo e manter em evidência na entrevista. Levantou de novo a bola para Serra cortar.

José Serra: Você tem 40 lá no Supremo Tribunal Federal...

Willlam Bonner: Não, exato.

José Serra: E o PT ganha disparado.

Serra cortou a bola levantada por Bonner para atacar o PT, se esquivando de explicar sua relação com Roberto Jefferson. 

William Bonner: Mas não há nenhum constrangimento para o senhor pelo fato de esta aliança por parte do seu partido, o PSDB, ter sido assinada com o PTB pelas mãos do presidente do partido que teve o mandato cassado inclusive com votos de políticos do seu partido, o PSDB? Isso não provoca nenhum tipo de constrangimento?

O aparente "aperto" não passa de pautar a entrevista em torno de desgastar o PT.

José Serra: Olha, o Roberto Jefferson, é o presidente do PTB, ele não é candidato. Ele conhece muito bem o meu programa de governo, o meu estilo de governar. O PTB está conosco dentro dessa perspectiva. Eu não tenho compromisso com o erro. Aliás, nunca tive na minha vida. Tem coisa errada, as pessoas pagam, né? Quem é responsável por si é aquele que comete o erro, é ele que deve pagar. Eu não fico julgando. Mas eu não tenho compromisso com nenhum erro. Agora, quem está comigo sabe o jeito que eu trabalho. Por exemplo, eu não faço aquele loteamento de cargos. Para mim, não tem grupinho de deputados indicando diretor financeiro de uma empresa ou indicando diretor de compras de outra. Por quê? Para que que um deputado quer isso? Evidentemente não é pra ajudar a melhorar o desempenho. É para corrupção. Comigo isso não acontece. Não aconteceu na saúde, no governo de São Paulo e na prefeitura.

Serra errou (pela 6ª vez), por que caiu na 1ª contradição. A defesa que ele faz do relacionamento com Roberto Jefferson, contradiz as críticas que ele fez ao PT. O povo não é bobo.

Serra falou a quarta mentira: até político de Mato Grosso (Antero Paes de Barros) e Pernambuco (Roberto Freire), que estavam desempregados, ele arrumou uma boquinha na SABESP e na Prefeitura de São Paulo.

Fátima Bernardes: Candidato, nesta eleição, quer dizer, o senhor destaca muito a sua experiência política. Mas na hora da escolha do seu vice, houve um certo, um certo conflito com o DEM exatamente porque houve uma demora para o aparecimento desse nome. Muitos dos seus críticos atribuem essa demora ao seu perfil centralizador. O nome do deputado Índio da Costa apareceu 18 dias depois da sua oficialização, da convenção que oficializou a sua candidatura. É... O senhor considera que o deputado, em primeiro mandato, está pronto para ser o vice-presidente, uma função tão importante?

Fátima suavizou a pergunta. Ela teria que ter perguntado se José Roberto Arruda (ex-DEMos), seria o vice, caso não fosse preso no mensalão do DEM. Deveria perguntar também, sobre os problemas com Aécio, sobre a recusa em ser vice.

José Serra: Está. Fátima, deixa só eu te dizer uma coisa. Eu não sou centralizador. Eu sei que tenho a fama de centralizador. Mas no trabalho, eu delego muito. Eu sou mais um cobrador. Eu acompanho tudo.

Fátima Bernardes: Eu falei centralizador porque até no seu discurso de despedida do governo de São Paulo, o senhor mesmo explicou sobre essa fama de centralizador.

José Serra: Que eu não era centralizador. E todo muito que trabalha comigo sabe disso, eu delego muito. Agora, eu acompanho porque quem coordena, quem chefia tem que acompanhar para as coisas acontecerem. A questão da vice estava orientada numa direção. Por circunstancias políticas, acabou não acontecendo. E o Índio da Costa, que foi o escolhido, estava entre os nomes que a gente cogitava. Só que isso não tinha ido para a opinião pública porque senão é uma fofoca só. Fulano, cicrano, isso e aquilo. Ele disputou quatro eleições, é um homem de 40 anos e foi um dos líderes da aprovação do ficha limpa no Congresso. Eu acho que...

Fátima Bernardes: Mas a experiência dele é municipal, na verdade, não é? Ele teve três mandatos de vereador, o senhor acha que isso o qualifica?

José Serra: E um mandato deputado federal.

Fátima Bernardes: Que ele está exercendo pela primeira vez.

José Serra: Eu acho que isso o qualifica perfeitamente. O que vale é a experiência na vida pública. Tem livros sobre administração e eu insisto. Sua atuação no Congresso Nacional foi marcada pelo ficha limpa. Se você for pegar também outros vices, do ponto de vista da experiência pública, cada um tem suas limitações. Mas eu não estou aqui para ficar julgando os outros. Eu só sei que o meu vice, jovem, ficha limpa, preparado, com muita vontade, e do Rio de Janeiro, é um vice adequado. Eu me sinto muito bem com ele. Agora, devo dizer o seguinte...

Serra caiu na 2ª contradição. Ele defende seu vice dizendo que um deputado federal pela primeira vez, do baixo clero, é "perfeitamente qualificado", enquanto tenta desqualificar Dilma, que já ocupou cargos muitos mais importantes e se saiu muito bem. Serra desmontou suas próprias críticas à Dilma, ao defender seu vice.

Quinta mentira: a ficha do vice está suja e lambuzada de merenda escolar, segundo uma vereadora, tucana acima de qualquer suspeita.

William Bonner: Candidato... Candidato.

José Serra: Eu tenho muito boa saúde. Ninguém está sendo vice comigo achando que eu não vou concluir o mandato.

Serra errou ao dizer isso. Falou demais, e errou duas vezes (7º e 8º erro):

1ª) Chamou atenção para algo que a maioria dos telespectadores não estava pensando, e foram induzidos a ser perguntar: E se o Serra faltar? É aquele Indio da Costa que será presidente?

2ª) Na prática, disse que o vice é de "brincadeirinha", desqualificando-o, depois de tê-lo defendido.

William Bonner: Mas um vice não assume só nessas circunstâncias...

Fátima Bernardes: Trágicas.

Agora foi a Fátima quem, sem querer, colocou "a pulga atrás da orelha" do telespectador ...

José Serra: Mas, enfim... Eu não sei até que ponto...

William Bonner: Candidato, eu gostaria de abordar um pouquinho também da sua passagem pelo governo de São Paulo. O senhor foi governo em São Paulo durante quatro anos, seu partido está no poder em São Paulo há 16 anos. Então é razoável que a gente avalie aqui algumas dessas ações. A primeira que eu colocaria em questão aqui é um hábito que o senhor mesmo tem de criticar o modelo de concessão das estradas federais. De outro lado, os usuários, muitos usuários das estradas estaduais de São Paulo que estão sob regime de concessão, se queixam muito do preço e da frequência com que são obrigados a parar para pedágio, quer dizer, uma quantidade de praças de pedágio que eles consideram excessiva. Pergunta: o senhor pretende levar para o Brasil inteiro esse modelo de concessão de estradas estaduais de São Paulo?

Bonner suavizou muito a pergunta. E a fez muito longa, dispersando a atenção do telespectador que não conheça os abusos dos pedágios paulistas.

José Serra: Olha, antes disso. No caso de São Paulo, tem uma pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes, um organismo independente: 75% dos usuários das estradas do Brasil acham as paulistas ótimas ou boas. 75%, um índice de aprovação altíssimo. Isso para as federais é apenas 25%. De cada dez estradas federais, sete estão esburacadas. São as rodovias da morte. Na Bahia, em Minas, BH, Belo Horizonte, Governador Valadares, em Santa Catarina. Enfim, por toda a parte. O governo federal fez um tipo de concessão que não está funcionando.

Serra falou a sexta mentira: nesta mesma pesquisa Pesquisa rodoviária da CNT quele citou, realizada em 2009, mostra em relação aos 87.552 quilômetros avaliados: Pavimentação (págs. 32 a 35, do Relatório Gerencial): 94,3% não apresentam buracos. De onde ele tirou essa mentira que 7 em cada 10 estão esburacadas?

William Bonner: Mas a que o senhor fez motivou críticas quanto ao preço. Então a questão que se impõe é a seguinte, candidato: não existe um meio termo? Ou o cidadão brasileiro tem uma estrada boa e cara ou ele tem uma estrada ruim e barata. Não tem um meio termo nessa história?

José Serra: Eu acho que pode ter uma estrada boa que não seja cara, se você trabalhar direito. Por exemplo, a concessão que eu fiz da Ayrton Senna. O pedágio anterior era cobrado pelo órgão estadual. Caiu para a metade o pedágio. É que realmente, geralmente, os exemplos bons não veem...

A rodovia  Ayrton Senna, a única que Serra cita como tendo "reduzido" o pedágio, tem apenas 48,3 Km. E os milhares de Km das outras rodovias pedagiadas de São Paulo, cujos pedágios só subiram?
Detalhe: o pedágio da Ayrton Senna só diminuiu porque ela corre paralela à via Dutra. Se o pedágio fosse mais caro do que na Dutra, quase ninguém a usaria.

William Bonner: Mas esse modelo vai ser exportado para as estradas federais?

José Serra: Esse modelo que diminuiu pode ser adotado, porque você tem critérios para ser examinados. O governo federal fez estradas pedagiadas. Só que estão, por exemplo, no caso de São Paulo, a Régis Bittencourt, que é federal, ela continua sendo a rodovia da morte. E a Fernão Dias, Minas-São Paulo, está fechada. Você percebe? Nunca o Brasil esteve com as estradas tão ruins. Agora, tem mais: em 1000 é, é, no começo de 2003 para cá, foram arrecadados R$ 65 bilhões para transportes, para estradas na Cide. É um imposto. Sabe quanto foi gasto disso pelo governo federal? Vinte e cinco. Ou seja, foram R$ 40 bilhões arrecadados dos contribuintes para investir em estradas do governo federal que não foram utilizados. A primeira coisa que eu vou fazer, William, é utilizar esses recursos para melhorar as estradas. Não é o assunto de concessão que está na ordem do dia. É gastar. É entender o seguinte: por que de cada R$ 3 que o Governo Federal arrecadou, foram 65, ele gastou um terço disso? É uma barbaridade.

Serra errou (pela 9ª vez) ao apavorar os brasileiros com a ameaça de extender o modelo de pedágios paulista, com tarifas abusivas para o resto do Brasil.

A principal diferença nos pedágios federais na era Lula é que não são onerosos e a margem de lucro é baixa (próximo da taxa selic). O resultado é uma tarifa muito baixa. Os governos demo-tucanos paulistas fazem o contrário: concessão onerosa, que são repassadas às tarifas, e margem de lucro das concessionárias acima de 20% (um absurdo).

A sétima mentira: A rodovia Fernão Dias não está fechada.

A oitava mentira: A arrecadação da CIDE não é só para estradas. Ela é usada também para infra-estrutura do transporte urbano nas cidades, projetos ambientais, e para subsidiar o preço de combustíveis, quando necessário.

O IPVA (quase R$ 9 bilhões só em São Paulo em 2009) que é estadual e Serra recolheu como governador, é que deveria ser para conservar rodovias, e não se sabe para onde vai, nem como é gasto, já que as rodovias paulistas foram privatizadas. O cidadão paulista paga um pedágio caríssimo, e ainda paga um IPVA também bastante caro.

Fátima Bernardes: Nós estamos...

José Serra: Por isso as estradas federais estão nessa situação. Desculpa, Fátima, fala.

Fátima Bernardes: Não, candidato. É que como nós temos um tempo, eu queria dar ao senhor os 30 segundos para o encerramento, para o senhor se dirigir ao...

José Serra: Já passou?!

Fátima Bernardes: Já passou, já estamos, olhe lá, Onze e quarenta e sete e os seus eleitores.

José Serra: Olha, eu vim aqui, queria, em primeiro lugar, agradecer a vocês por essa oportunidade. Eu tenho uma origem modesta, meus pais eram muito modestos. Eu acho que eles nunca sonharam que um dia eu estaria aqui no Jornal Nacional, que eles assistiam diariamente, aliás pela segunda vez, falando como candidato a presidente da República. Eu devo a eles até onde eu cheguei. Devo a eles, devo à escola pública e acabei virando professor universitário, mas também sempre ligado às questões públicas, desde que eu fui presidente da União Nacional dos Estudantes até hoje. O que eu peço hoje...

Serra ensaiou, ensaiou, ensaiou... e o que saiu foi isso aí.  

William Bonner: Seu tempo, candidato.

José Serra: Para concluir é o seguinte: eu acho que o Brasil pode continuar e pode melhorar muito. O que eu queria pedir às pessoas...

William Bonner: Candidato, o senhor me obriga a interrompê-lo, me perdoe, me perdoe.

José Serra: Não posso nem falar um pouquinho?

William Bonner: É em respeito... Não posso. Porque é em respeito aos demais candidatos que estiveram aqui. E eu sei que o senhor vai compreender. E eu quero agradecer a sua presença aqui.

José Serra: Não. Eu compreendo. Obrigado.

Quem pensou que Bonner foi "durão" com Serra, não conhece o outro lado da história.

Se o tempo fosse a mais para Serra, Dilma e Marina teriam direito a voltar ao Jornal Nacional outro dia para completar o tempo igual para todos, de acordo com as leis eleitorais.

Fonte: Blog Os amigos do Presidente Lula

DILMA 9 X 0 BONNER, NO JORNAL NACIONAL

Como foi a entrevista de Dilma Rousseff no Jornal Nacional:
William Bonner: O Jornal Nacional dá início nesta segunda-feira a uma série de entrevistas ao vivo com os principais candidatos à presidência da República. Nós vamos abordar aqui temas polêmicos das candidaturas e também confrontar os candidatos com suas realizações em cargos públicos. Claro que não seria possível esgotar esses temas todos em uma única entrevista, mas nas próximas semanas os candidatos estarão também no Bom Dia Brasil e Jornal da Globo.
O sorteio realizado com a supervisão de representantes dos partidos determinou que a candidata do PT, Dilma Rousseff, seja a entrevistada de hoje. Nós agradecemos a presença da candidata. Boa noite, candidata.
Dilma Rousseff: Boa noite.
William Bonner: E informamos também que o tempo de 12 minutos da entrevista passa a contar a partir de agora. Candidata, o seu nome como candidata do PT à presidência foi indicado diretamente pelo presidente Lula, ele não esconde isso de ninguém. Algumas pessoas criticaram, disseram que foi medida autoritária, por não ter ouvido as bases do PT. Por outro lado, a senhora não tem experiência eleitoral nenhuma até esse momento. A senhora se considera preparada para governar o Brasil longe do presidente Lula?
Dilma 1 x 0: Olha, William, olha, Fátima, eu considero que eu tenho experiência administrativa suficiente. Eu fui secretária municipal da Fazenda, aliás, a primeira secretária municipal de Fazenda de capital. Depois eu fui sucessivamente, por duas vezes, secretária de Energia do Rio Grande do Sul. Assumi o ministério de Minas e Energia, tambem fui a primeira mulher, e fui coordenadora do governo ao assumir a chefia da Casa Civil. Como vocês sabem, é o segundo cargo mais importante na hierarquia do governo federal. Então, eu me considero preparada para governar o país. E mais do que isso, eu tenho experiência, eu conheço o Brasil de ponta a ponta, conheço os problemas.
William Bonner: Mas a sua relação com o presidente Lula, a senhora faz questão de dizer que é muito afinada com ele. Junto a isso, o fato de a senhora não ter experiência e ter tido o nome indicado diretamente por ele, de alguma maneira a senhora acha que isso poderia fazer com que o eleitor a enxergasse ou enxergasse o presidente Lula como um tutor de seu governo, caso eleita?
Dilma 2 x 0: Você sabe, Bonner, o pessoal tem de escolher o que é que eu sou. Uns dizem que sou mulher forte, outros dizem que eu tenho tutor. Eu quero te dizer o seguinte: a minha relação política com o presidente Lula, eu tenho muito orgulho dela. Eu participei diretamente com o presidente, fui braço direito e esquerdo dele nesse processo de transformar o Brasil num país diferente, num país que cresce, distribui renda, em que as pessoas têm pela primeira vez, depois de muitos anos, a possibilidade de subir na vida. Então, não vejo problema nenhum na minha relação com o presidente Lula. Pelo contrário, vejo que até é um fator muito positivo, porque ele é um grande líder, e é reconhecido isso no mundo inteiro.
Fátima Bernardes: A senhora falou em temperamento. Alguns críticos, muitos críticos e alguns até aliados falam que a senhora tem um temperamento difícil. O que a gente espera de um presidente é que ele, entre outras coisas, seja capaz de fazer alianças, de negociar, ter habilidade política para fazer acordos. A senhora de que forma pretende que esse temperamento que dizem ser duro e difícil não interfira em seu governo caso eleita?
Dilma 3 x 0: Fátima, estava respondendo justamente isso, eu acho que têm visões construídas a meu respeito. Acho que sou uma pessoa firme, acho que em relação aos problemas do povo brasileiro eu não vacilo, acho que o que tem que ser resolvido prontamente, nós temos que fazer um enorme esforço. Eu me considero hoje, até pelo cargo que ocupei, extramamente preparada no sentido do diálogo. Nós do governo Lula somos eminentemente um governo do diálogo. Em relação aos movimentos sociais, você nunca vai ver o governo do presidente Lula tratando qualquer movimento social a cassetete. Primeiro nós negociamos, dialogamos. Agora, nós tambem sabemos valer a nossa autoridade. Nada de ilegalidade nós compactuamos.
Fátima Bernardes: Agora, no caso, por exemplo, a senhora falou de não haver cassetete, mas talvez a forma de a senhora se comportar. O próprio presidente Lula, este ano em discurso durante uma cerimônia de posse de ministros, ele chegou a dizer que achava até natural haver queixas contra a senhora, mas que ele recebeu na sala dele várias pessoas, colegas, ex-ministros, ministros, que iam lá se queixar que a senhora os maltratava.
Dilma 4 x 0: Olha, Fátima, é o seguinte, no papel, sabe dona de casa? No papel de cuidar do governo é meio como se a gente fosse mãe, tem uma hora que você tem de cobrar resultados. Quando você cobra resultados, você tem de cobrar o seguinte: olha, é preciso que o Brasil se esforce, principalmente o governo, para que as coisas aconteçam, para que as estradas sejam pavimentadas, para que ocorra saneamento. Então tem uma hora que é que nem, você imagina lá sua casa, a gente cobra. Agora, tem outra hora que você tem de incentivar, garantir que a pessoa tenha estímulo para fazer.
Fátima Bernardes: Como mãe eu entendo, mas como presidente não tem uma hora que tem que ter facilidade de negociar, por exemplo, futuramente no Congresso, com líderes mundiais, ter um jogo de cintura ai?
William Bonner Não Deixa Dilma responder: O presidente falou em maltratar, não é, candidata?
Dilma Rousseff: Não, o presidente não falou em maltratar, o presidente falou que eu era dura.
William Bonner: Não, ele disse isso. A senhora me perdoe, mas o discurso dele está disponível. Ele disse assim: as pessoas diziam que foram maltratadas pela senhora. Mas a gente também não precisa ficar nessa questão até o fim, têm outros temas.
Dilma está certa: no contexto das palavras do Presidente Lula, ele em nenhum momento confirma que Dilma "maltratava" companheiros de trabalho. Disse que havia pessoas que queixaram de que teria sido maltratadas, que Dilma "tinha sido muito dura... o que também é normal", nas palavras do presidente. Bonner, diante do telespectador, é quem ficou com imagem de entrevistador que maltrata seus convidados.
Dilma 5 x 0: É muito difícil, depois de anos e anos de paralisia, e houve isso no Brasil. O Brasil saiu de uma era de desemprego, desigualdade e estagnação para uma era de prosperidade. Nós tínhamos perdido a cultura do investimento, aí houve uma força muto grande da minha parte nesse sentido, de cumprir meta, de fazer com que o governo Lula fosse esse sucesso que tenho certeza que está sendo.
William Bonner: A senhora tem na sua candidatura, além do apoio do presidente, alianças formadas. Por exemplo, a do deputado Jader Barbalho, do senador Renan Calheiros, da família Sarney, a senhora tem o apoio do ex-presidente Fernando Collor. São todas figuras da política brasileira, que, ao longo de muitos anos, o PT, o seu partido, criticou severamente, eram considerados como oligarcas pelo PT. Quando foi que o PT errou: quando fez aquelas críticas todas ou está errando agora, quando botou todo mundo debaixo do mesmo guarda-chuva?
Dilma 6 x 0 (um gol de placa): Eu perguntaria outra coisa: aonde foi que o PT acertou? Quando percebeu que governar um país com a complexidade do Brasil implica necessariamente na sua capacidade de construir uma aliança ampla. O PT não tinha experiência de governo e agora tem. Nós não erramos e vou te explicar em que sentido: não é que nós aderimos ao pensamento de quem quer que seja. O governo Lula tinha uma diretriz: focar na questão social, fazer com que o país tivesse a oportunidade, primeiro, de um país que era considerado dos mais desiguais do mundo, diminuir a pobreza em 24 milhões. Um país em que as pessoas não subiam na vida elevou para as classes médias 31 milhões de brasileiros. Para fazer isso, quem nos apóia, aceitando os nossos princípios e aceitando as nossas diretrizes de governo, a gente aceita do nosso lado. Não nos termos de quem quer que seja, mas nos termos de um governo que quer levar o Brasil para um outro patamar.
William Bonner: O resumo é: o PT não errou nem naquela ocasião, nem agora.
Dilma Rousseff: Eu acho que o PT não tinha tanta experiência, eu reconheço isso. Ninguém pode achar que um partido como o PT, que nunca tinha estado no Governo Federal, tivesse, naquele momento, a mesma experiência que tem hoje. Acho que o PT aprendeu muito, mudou, porque a capacidade de mudar é importante.
William Bonner: O PT tem hoje nas costas oito anos de governo, então é razoável que a gente aborde aqui alguma das realizações. Vamos discutir um pouco o desempenho do governo em algumas áreas, começando pela economia. O governo comemora muito melhoras da área econômica, no entanto, o que a gente observa, é que quando se compara o crescimento do Brasil com países vizinhos, como Uruguai, Argentina, Bolívia, e também com os pares dos Brics, os chamados países emergentes, como China, Índia, Rússia, o crescimento do Brasil tem sido sempre menor do que o de todos eles. Por quê?
Dilma 7 x 0: Eu acredito que nós tivemos um processo muito mais duro no Brasil com a crise da dívida e com o governo que nos antecedeu. Eu acho que o Uruguai e a Bolívia são países, sem nenhum menosprezo, acho que os países pequenos têm que ser respeitados, do tamanho de alguns estados menores no Brasil, que é um país de 190 milhões habitantes. Nós tivemos um processo no Brasil muito duro. Quando chegamos no governo, a inflação estava fora de controle. Nós tínhamos uma dívida com o Fundo Monetário, que vinha aqui e dava toda a receita do que a gente ia fazer. Nós tivemos que fazer um esforço muito grande para colocar as finanças no lugar e depois, com estabilidade, crescer. Este ano, a nossa discussão é que estamos entre os países que mais crescem no mundo, estamos com a possibilidade de ter uma taxa de crescimento de 7% do Produto Interno Bruto. Sem fazer comparações, a queda da economia na Rússia no ano passado foi terrível. Criamos quase 1,7 milhão empregos no ano da crise.
Fátima Bernardes: Vamos falar um pouquinho de outro problema, que é o saneamento. Segundo dados do IBGE, o saneamento no Brasil passou de 46,4 para 53,2 no governo Lula, um aumento pequeno, de 1 ponto percentual mais ou menos ao ano. Por que o resultado fraco numa área que é muito importante para a população?
Dilma 8 x 0: Porque nós vamos ter um resultado excepcional a partir dos dados da pesquisa feita em 2010. Talvez uma das áreas em que eu mais me empenhei foi área de saneamento, porque o Brasil investia menos de R$ 300 milhões no país inteiro. Hoje, aqui no Rio, na favela da Rocinha, que eu estive hoje, nós investimos mais de R$ 270 milhões. Nós lançamos o Programa de Aceleração do Crescimento, para o caso do saneamento, na metade de 2007. Começou a amadurecer porque o país parou de fazer projetos. Prefeitos e governadores apresentaram os projetos agora, em torno do início de 2008, e aceleraram. Eu estava vendo recentemente que nós temos hoje uma execução de obras no Brasil inteiro. No Rio, Rocinha, Pavão-Pavãozinho, Complexo do Alemão. Obras de saneamento, de habitação. A Baixada Santista, em São Paulo, e a Baixada Fluminense aqui no Rio de Janeiro tiveram um investimento monumental em saneamento.
Fátima Bernardes: A gente gostaria agora que a senhora, em 30 segundos, desse uma mensagem ao eleitor, se despedindo da sua participação no Jornal Nacional.
Dilma 9 x 0: Eu agradeço a vocês dois e quero dizer para o eleitor o seguinte: o meu projeto é dar continuidade ao governo do presidente Lula. Mas não é repetir. É a avançar e aprofundar, é basicamente este olhar social, que tira o Brasil de uma situação de país emergente e leva o nosso país a uma situação de país desenvolvido com renda, com salário decente, com professores bem pagos e bem treinados. Eu acredito que é a hora e a vez do Brasil e nós vamos chegar a uma situação muito diferente, cada vez mais avançada no final deste governo em 2014.”

FONTE: Blog “Os amigos do Presidente Lula”.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Jornal Nacional está retirando Lula do noticiário


Do Blog Nas Retinas

Em abril, as sonoras do presidente no JN estão 60% abaixo da média (0,40), em junho, cai para 64% abaixo da média (0,36) e em julho para 77% abaixo da média (0,23). Dito de outra forma, tirando os meses com distorção do noticiário sobre Irã (março e maio), o JN vinha dando uma sonora do presidente a cada 4 ou cinco edições do telejornal. Em abril e junho, vai para uma a cada 6,5 edições. Em julho, vai para uma a cada 9 edições. No mesmo período, os demais telejornais analisados fizeram praticamente o caminho inverso.

É evidente o esforço do Jornal Nacional para evitar que a candidata Dilma Roussef seja reconhecida pelo público como a candidata do presidente Lula. A medida que Lula aparece ao lado de Dilma, sua popularidade se cola a candidata. Um presidente com mais de 80% de aprovação popular pode sim impulsionar seu sucessor, apesar da mídia brasileira não querer e agora cobrar do presidente imparcialidade nas eleições. Para atacar o presidente, espalhando preconceitos, a mídia não o trata como o titular do mais alto cargo público do país. Basta lembrar o bando de cachorros loucos que o entrevistou no Roda Viva em 2005, durante a mais grave crise de seu governo.

Recebi de profissionais de mídia, especializados em clipping e acompanhamento de telejornais, tabelas comparativas que mostram como o Jornal Nacional está limando Lula do notíciário em 2010 enquanto em outros jornais, a média de aparições do presidente muda pouco. Isso não é falta de pauta relevante, pois os outros jornais continuam com cobertura frequente dos atos da Presidência.

Em junho de 2010, Lula teve 4 citações no JN Nacional contra 9 em 2009. Em julho foram 3 em 2010 contra 13 em 2009. Aqui você pode baixar a Planilhas de visibilidade do PR nos telejornais. E aqui baixe a tabela padrão de discordância do JN. Veja explicação mais detalhada dos dois arquivos:

De janeiro a julho de 2009, o presidente Lula apareceu falando no JN 57 vezes. No mesmo período deste ano, foram 44. Uma redução acima de 20%. No entanto, se descontarmos as sonoras relacionadas ao Irã, que foram 12 no período, aqueda seria de 44%, perto da metade. Na comparação apenas dos dois meses mais recentes, a diferença é impressionante:

junho de 2009, 9 sonoras do Lula no JN (mais de 2 por semana);

junho de 2010, 4 sonoras (uma por semana);

julho de 2009, 13 sonoras (mais de 3 por semana);

julho de 2010, apenas 3 sonoras (menos de uma por semana).

Na comparação com os principais telejornais das emissoras concorrrentes (Planilha 2) o JN está sempre abaixo da média, mas a divergência mais grosseira ocorre nos últimos quatro meses, tirando maio, quando o assunto Irã distorceu a curva. Em abril, as sonoras do presidente no JN estão 60% abaixo da média (0,40), em junho, cai para 64% abaixo da média (0,36) e em julho para 77% abaixo da média (0,23). Dito de outra forma, tirando os meses com distorção do noticiário sobre Irã (março e maio), o JN vinha dando uma sonora do presidente a cada 4 ou cinco edições do telejornal.

Em abril e junho, vai para uma a cada 6,5 edições. Em julho, vai para uma a cada 9 edições. No mesmo período, os demais telejornais analisados fizeram praticamente o caminho inverso, aumentando a frequência das sonoras do presidente: Repórter Brasil – de uma sonora a cada 2,5 edições em janeiro para uma a cada 2 em julho; Jornal da Record – de uma a cada 5 em janeiro para uma a cada 1,6 em julho; Band – de 3,1 para 1,7 e SBT de 4,2 para 1,8.

Na Planilha 1 tem um estudo comparado de mais de 600 matérias ou notas noticiadas pelos telejornais analisados. A cor vermelha indica uma matéria com sonora do presidente, a amarela uma matéria ou nota em que ele é mencionado como protagonista, mas não há sonora, a azul é quando a nota ou matéria só faz referência a ele e a cinza indica que o telejornal não deu nenhuma informação sobre o assunto noticiado nos demais. Em 24 ocasiões entre janeiro e julho, o JN usou um critério jornalístico que subavaliou o assunto em relação a todos os demais. Destes 24 casos, destacamos 15 exemplos berrantes, que estão na tabela de padrão de discordância e falam por si mesmos.