24/10/2009 - 10h03
Lula usa eleição interna no PT para enquadrar EstadosPublicidade
FÁBIO ZANINI
da Folha de S.Paulo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende utilizar a eleição interna do PT no final de novembro para enquadrar Estados que resistem a abrir espaço para aliados.
Nesta semana, Lula interveio no caso mais espinhoso, o do Rio de Janeiro. Liberou seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, para dar apoio explícito ao deputado federal Luiz Sérgio, que concorre à presidência do diretório estadual com o discurso de apoio à reeleição do governador Sérgio Cabral (PMDB).
"Temos o desafio de consolidar as mudanças promovidas pelo governo Lula e construir um amplo arco de alianças para garantir a continuidade de nosso projeto de transformação do Brasil", diz a mensagem de apoio a Luiz Sérgio enviada por Carvalho.
Lula orientou seus aliados a fazerem o possível para dar vitória por ampla margem a Luiz Sérgio, de preferência no primeiro turno da votação petista. Segundo a Folha apurou, sindicatos ligados à CUT ajudam na mobilização pró-Sérgio.
O apoio do chefe de gabinete de Lula ganha em relevância pelo fato de o principal adversário de Sérgio, Bismarck Alcântara, ser assessor dele no Planalto, em Brasília.
Alcântara defende a candidatura a governador do prefeito petista de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, mas a vitória de Sérgio praticamente selaria a aliança com o PMDB.
"A disputa no Rio é emblemática. O resultado dará nitidez ao caminho que o Estado seguirá na eleição", diz o tesoureiro do PT, Paulo Ferreira.
Outros Estados problemáticos para o PT vivem situações semelhantes. No Ceará, o governo trabalha pela chapa ligada à prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, defensora do apoio ao PSB. Concorre com ela o grupo do ex-prefeito de Quixadá Ilário Marques, que prefere candidatura própria.
No Paraná, Lula aposta numa vitória esmagadora do grupo ligado ao ministro Paulo Bernardo (Planejamento) para sacramentar o apoio ao senador Osmar Dias (PDT) para o governo. A assinatura de Dias à CPI do MST nessa semana deu fôlego no partido a uma ala que rejeita a aliança.
Outro exemplo é o Pará, onde o atual presidente estadual, João Batista, concorre à reeleição com o discurso de apoio ao PMDB do deputado federal Jader Barbalho.
Nesses Estados, mas principalmente no Rio, o PMDB exige uma composição com o PT para honrar o "pré-compromisso" firmado de apoio à candidatura presidencial da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).
Marcado para 22 de novembro (com segundo turno em 6 de dezembro), o PED (Processo de Eleição Direta) prevê o voto direto dos filiados para as direções nacional, estaduais e municipais.
Uma vitória convincente da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), a mais ligada a Lula, daria mais força para moldar os palanques regionais ao gosto da estratégia nacional.
"Uma vitória de candidatos que defendem a tese da aliança em vários Estados é uma sinalização fundamental para 2010", diz Francisco Rocha, coordenador nacional da ala CNB.
Comentário
É fato para quem acompanha o PED no Estado do Rio as dificuldades da candidatura do deputado federal Luiz Sérgio à presidência estadual do PT, já que a sua corrente (CNB- Construindo um Novo Brasil) lançou mais dois candidatos ao mesmo cargo, Bismark Alcantaral, e Lourival Casula, e o resultado de um provável segundo turno é imprevisível.
O primeiro é apoiado pelo grupo liderado pelo ex-deputado federal Vladimir Palmeira, que detém no mínimo 20% dos votos petistas, e, o segundo, pelo prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, que tornou o PED um prelúdio da sua candidatura ao governo do Estado do Rio, e está jogando pesado para impedir a vitória de Luiz Sérgio, defensor do apoio a reeleição do governador Sérgio Cabral.
O cenário de disputa do PED estadual é interessante, porque revela um isolamento político do candidato supostamente preferido do Palácio do Planalto, o deputado Luiz Sérgio, porque além daqueles postulantes à presidência estadual do PT, o candidato da esquerda socialista, o vereador e presidente da Câmara Municipal de Mesquita, André Taffarel, também defende a candidatura própria e o virtual apoio às pretensões de Lindberg. O outro candidato, o vereador de Niterói, Waldeck, não se manifesta porque não existe unidade no seu grupo de apoio sobre a tática eleitoral a ser adotada pelo partido.
Enfim, a luz vermelha se acendeu para a candidatura que defende o apoio à Cabral, posição que encontra resistência em parcelas significativas da militância petista fluminense, inclusive entre aqueles que têm restrições à Lindberg Farias.
Se confirmada a matéria publicada pela Folha de São Paulo, e dependendo da forma como o Planalto pretende interferir na disputa, o PED no Estado do Rio ganha contornos de "intervenção branca", numa seção partidária que carrega um profundo trauma de ter as suas decisões eleitorais urdidas ou boicotadas de fora para dentro, como foi nas disputas estaduais de 1994 e 1998, e na capital em 1996.